Natalia da Luz, Por dentro da África
Em Acra, capital de Gana, uma iniciativa vem transformando o plástico descartado nas ruas da cidade em objetos de arte. Esse trabalho de reciclagem ajuda a transformar comunidades inteiras criando emprego e despertando a consciência sobre a urgência em cuidar do meio ambiente.
“No meu país, o plástico é um problema enorme. A coleta não é eficaz e não há tratamento para que todo esse lixo seja reciclado em larga escala. O que é mais difícil é fazer com que as pessoas entendam que elas têm responsabilidade sobre isso, que elas não podem deixar o lixo em qualquer lugar”, contou em entrevista ao Por dentro da África, o ganês Makafui Awuku.
Em janeiro, o ganês criou a organização Mckingtorch Creatives e, junto de uma equipe de 7 funcionários e 50 voluntários, vem coletando sacos e garrafas a partir de veículos que visitam escolas, hospitais, hotéis. Apenas neste ano, a equipe já recolheu mais de 40 mil garrafas de plástico e 30 mil sacos plásticos. Com essa quantidade, eles produziram centenas de objetos como vasos, quadros, bolsas, calçados e lixeiras.
“A urgência agora é ter um caminhão para facilitar a coleta. Também precisamos de um espaço maior para produzir os objetos e colocá-los à venda, e de equipamentos para triturar e soldar os materiais”, detalhou o ativista, completando que os objetos criados são usados pela comunidade e vendidos para turistas e apoiadores.
Segundo a ONU Meio Ambiente, a poluição plástica é considerada uma das principais causas atuais de danos ao meio ambiente e à saúde. Mesmo assim, os números da produção e descarte incorreto deste material não param de crescer. Mais plástico foi produzido na última década do que em todo o século passado. Por ano, são consumidas até 5 trilhões de sacolas plásticas em todo o planeta.
A cada minuto, são compradas 1 milhão de garrafas plásticas e 90% da água engarrafada contém microplásticos. Metade do plástico consumido pelos humanos é descartável (e evitável) e pelo menos 13 milhões de toneladas vão parar nos oceanos anualmente, prejudicando 600 espécies marinhas, das quais 15% estão ameaçadas de extinção.
Soluções para reciclar ou banir o plástico vem sendo adotadas em diversos países do mundo. Em Ruanda, por exemplo, o uso de sacolas plásticas foi proibido no país africano há 10 anos. Em Gana, país de cerca de 27 milhões de habitantes, Awuku acredita que ainda há muito para avançar.
“Normalmente, as pessoas não veem o valor do lixo, elas não apreciam o que pode ser criado com o plástico. É possível criar empregos, soluções que podem ser replicadas em todo o mundo. Nós estamos tentando mudar essa mentalidade limpando as comunidades. Essa é uma grande luta que precisa de infraestrutura, treinamento e, principalmente, do apoio da população”, completou Awuku.