
Com informações da ONU News
A cólera está se espalhando rapidamente por Darfur do Norte, no Sudão, colocando em risco milhares de crianças já fragilizadas pela fome e pelo deslocamento forçado. O alerta foi feito neste domingo pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que enfrenta grandes dificuldades para levar ajuda humanitária a comunidades isoladas em meio à intensificação dos combates.
Segundo dados da agência, já foram registrados mais de 1.180 casos de cólera na cidade de Tawila, incluindo aproximadamente 300 crianças e pelo menos 20 mortes. A cidade acolheu mais de meio milhão de pessoas que fugiram da violência desde abril.
Em toda a região de Darfur, a situação é ainda mais alarmante: até 30 de julho, foram notificados quase 2.140 casos e mais de 80 mortes.
“Apesar de ser uma doença evitável e de tratamento simples, a cólera está devastando Tawila e outras partes de Darfur, ameaçando vidas infantis — especialmente as mais jovens e vulneráveis”, declarou Sheldon Yett, representante da UNICEF no Sudão.
Uma crise dentro de outra
A cidade de Tawila, localizada a apenas 70 km da capital sitiada El Fasher, se tornou o epicentro de uma crise humanitária múltipla. Hospitais foram bombardeados, centros de saúde estão fechados e o acesso à água potável e ao saneamento básico é extremamente limitado. Os campos superlotados facilitam ainda mais a propagação da doença.
Colapso total
Desde que o conflito entre forças militares rivais começou em abril de 2023, o Sudão vive um cenário de colapso: infraestruturas foram destruídas, milhões de pessoas foram deslocadas e sistemas alimentares entraram em colapso.
A fome já foi declarada oficialmente em pelo menos 10 localidades, incluindo o gigantesco campo de deslocados de Zamzam, com outras dezenas de áreas em risco iminente.
As mudanças climáticas também agravam o cenário: o país sofre com secas severas e enchentes devastadoras, o que contribui para a expansão das doenças e a insegurança alimentar.
Crianças em perigo extremo
Somente em Darfur do Norte, mais de 640 mil crianças menores de cinco anos estão em risco. Avaliações recentes mostram que o número de crianças com desnutrição aguda grave dobrou no último ano.
“Crianças enfraquecidas pela fome têm muito mais chances de contrair cólera e morrer da doença”, alertou a UNICEF.
A UNICEF fez um apelo urgente às partes em conflito para garantir acesso humanitário seguro, contínuo e sem impedimentos. Atrasos burocráticos, saques a comboios e confrontos armados têm dificultado a entrega de suprimentos essenciais — incluindo vacinas, alimentos terapêuticos e kits médicos.
A agência está intensificando sua resposta de emergência em Tawila e em outras regiões de Darfur, com distribuição de sais de reidratação oral, água clorada e kits de higiene.
Quase 30 mil pessoas em Tawila já têm acesso diário à água potável, e equipes de sensibilização estão promovendo ações de conscientização sobre prevenção e tratamento precoce da cólera.
Recursos urgentes
Para conter o surto de forma mais ampla, a UNICEF pretende distribuir mais de 1,4 milhão de doses da vacina oral contra cólera e ampliar os centros de tratamento. Outros suprimentos, como sabão, lonas plásticas e estruturas sanitárias, também estão sendo preparados — mas o acesso continua sendo o maior desafio.
Desde a declaração oficial do surto em agosto de 2024, o Sudão já contabilizou mais de 94 mil casos de cólera e mais de 2.370 mortes em 17 dos 18 estados do país.