
Mais de 25 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas nas últimas semanas em decorrência da violência crescente na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. O alerta é do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que aponta um agravamento da crise humanitária no país africano.
A região, rica em gás natural, pedras preciosas e minerais, é palco de um conflito armado alimentado por grupos insurgentes e extremistas, que atacam civis e provocam deslocamentos em massa. Desde o início da insurgência em 2017, quase 1,3 milhão de moçambicanos já se tornaram deslocados internos.
Segundo trabalhadores humanitários, a resposta à crise está no limite. A situação se agrava com a redução de recursos internacionais, o que compromete o atendimento básico às populações afetadas.
Deslocamentos sucessivos e pressão sobre comunidades anfitriãs
Muitas das famílias deslocadas já haviam sido forçadas a fugir anteriormente — algumas pela segunda ou terceira vez — e agora buscam refúgio em províncias vizinhas. Niassa, por exemplo, que até então registrava poucos deslocamentos, acolheu recentemente mais de 2 mil pessoas em situação de emergência.
Além da violência armada, Moçambique enfrenta os efeitos de eventos climáticos extremos. Em março, o ciclone tropical Jude atingiu a província de Nampula, marcando o terceiro grande ciclone em apenas três meses, após o Freddy e o Gamane. A combinação de conflitos, desastres naturais e instabilidade política levou a um cenário humanitário alarmante: mais de 5,2 milhões de moçambicanos dependem atualmente de assistência para sobreviver.
Impacto econômico e novas pressões sociais
A instabilidade também tem provocado fuga de moçambicanos para países vizinhos, como o Malauí, principalmente durante os protestos pós-eleitorais. Embora muitos tenham retornado voluntariamente, o fluxo de deslocados continua a pressionar os serviços locais.
Ao mesmo tempo, o país abriga cerca de 25 mil refugiados e requerentes de asilo, sobretudo oriundos da República Democrática do Congo (RD Congo), o que agrava ainda mais a pressão sobre os já escassos recursos disponíveis.
O ACNUR alerta para necessidades urgentes de proteção, como apoio a sobreviventes de violência de gênero, saúde mental e acesso à documentação civil. No entanto, apenas 32% dos US$ 42,7 milhões solicitados pela agência foram recebidos até agora.
A crise humanitária também se entrelaça com uma crise econômica crescente. Os preços de alimentos essenciais registraram aumentos de até 20% nos últimos meses, enquanto os rendimentos das famílias continuam a cair, acentuando a vulnerabilidade de milhões.