Mais de 90% das crianças que chegaram à Europa neste ano, migrando através da Itália, estão desacompanhadas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertou para as crescentes ameaças de abuso, exploração e morte que elas enfrentam em um recente relatório sobre o tema.
O UNICEF publicou o documento “Perigo a cada passo do caminho”, que relata que mais de 7 mil crianças fizeram a travessia do norte da África à Itália nos primeiros cinco meses do ano. Até então, somente em 2016, um total de 2.809 mortes foram registradas no Mediterrâneo, contra 3.770 em todo o ano de 2015.
“Precisamos urgentemente proteger estas crianças de todos os tipos de abuso e exploração, feitas por aqueles que se aproveitam da situação para explorar os seus sonhos”, disse Marie-Pierre Poirier, coordenadora especial da UNICEF para a crise de refugiados e migrantes na Europa.
O relatório documenta os riscos que os adolescentes enfrentam em sua fuga para escapar de conflitos, desespero e pobreza. As crianças não acompanhadas geralmente dependem de traficantes de seres humanos, muitas vezes sob um sistema de pagamento que lhes expõe à exploração.
O UNICEF observou que alguns adolescentes são abusados e explorados sexualmente. Assistentes sociais italianos disseram à agência da ONU que crianças de ambos os sexos foram abusadas e obrigadas a se prostituir enquanto estavam na Líbia, e que algumas das meninas estavam grávidas, decorrentes de estupro, ao chegarem na Itália.
No entanto, devido à natureza ilegal das operações de contrabando humano, não há números confiáveis para mostrar como muitos dos refugiados e migrantes morrem, desaparecem no trabalho forçado ou na prostituição, ou permanecem em detenção, disse o UNICEF.
Com a chegada do verão no Mediterrâneo, os números mais recentes de crianças na rota do Mediterrâneo Central pode ser somente a ponta do iceberg, de acordo com o UNICEF. Atualmente, outros 235 mil migrantes estão na Líbia, e dezenas de milhares deles são crianças desacompanhadas.
“Cada país – aqueles que as crianças deixam, aqueles que atravessam e aqueles em que elas procuram asilo – tem a obrigação de estabelecer sistemas de proteção voltados para os riscos que as crianças não acompanhadas enfrentam”, disse Poirier.
“Na União Europeia e outros países de destino, há uma oportunidade para que reformas políticas e legislativas levem a mais oportunidades de canais seguros, legais e regulares para essas crianças”, acrescentou.