Sudão do Sul: Mais de 7 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar aguda

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Seeds distribution in Doro refugee camp, in Maban, South Sudan. ©FAO/UNHCR Albert Gonzales Farran

Com informações da ONU News

Duas regiões localizadas no Alto Nilo, no Sudão do Sul, estão caminhando para a fome, alertou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), após a divulgação de uma nova atualização do IPC — o sistema de classificação de segurança alimentar apoiado pela ONU — nesta quinta-feira.

A Escala Integrada de Classificação da Segurança Alimentar (IPC) mostra uma deterioração nas condições locais, revelando níveis de fome em situação de emergência.

O alerta ocorre em meio ao aumento da violência. Atualmente, 11 dos 13 condados enfrentam níveis emergenciais de insegurança alimentar e, entre eles, 32 mil habitantes estão em situação de fome “catastrófica” — quase três vezes mais do que as estimativas anteriores.

“Estamos vendo o impacto devastador que o conflito tem sobre a segurança alimentar no Sudão do Sul”, afirmou Mary-Ellen McGroarty, diretora nacional do Programa Mundial de Alimentos (PMA) no país.

“O conflito não destrói apenas casas e meios de subsistência; ele também desintegra comunidades, corta o acesso aos mercados e faz os preços dos alimentos dispararem”, explicou McGroarty.

Fome em todo o país

Ao todo, 7,7 milhões de pessoas em todo o Sudão do Sul enfrentarão insegurança alimentar aguda — mais da metade da população total do país. Além disso, 2,3 milhões de crianças sofrem com desnutrição, um aumento em relação aos 2,1 milhões registrados no início do ano.

A FAO prevê que esses números continuarão a crescer à medida que o país se aproxima da temporada de escassez e de chuvas, o que deve reduzir ainda mais o suprimento de alimentos e agravar os deslocamentos internos.

A agência destacou que os condados onde a violência foi menos intensa registraram melhorias na segurança alimentar, graças ao aumento da produção agrícola e à atuação humanitária. No entanto, a fome ainda persiste.

Apesar dos desafios, Meshack Malo, representante da FAO no Sudão do Sul, afirmou que esses resultados são uma prova dos “dividendos da paz”.

Rumo ao conflito

O Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo, conquistou sua independência em 2011 e rapidamente mergulhou em uma guerra civil brutal e devastadora, encerrada apenas em 2018 com um acordo de paz entre líderes políticos rivais — um pacto que, em grande parte, ainda se mantém.

Entretanto, tensões políticas recentes e o aumento de ataques violentos, especialmente no estado do Alto Nilo, ameaçam desestabilizar o acordo e levar o país de volta ao conflito.

“O Sudão do Sul não pode se dar ao luxo de voltar ao conflito neste momento. Isso mergulharia comunidades já vulneráveis em uma grave crise de insegurança alimentar, levando a uma fome generalizada”, alertou Meshack Malo.

Desafios humanitários

A FAO ressaltou que é essencial melhorar o acesso humanitário para enfrentar a crise de fome em rápida escalada.

O relatório da agência também enfatizou que a paz e o fortalecimento de capacidades locais são as únicas soluções sustentáveis para a insegurança alimentar no país.

“A paz duradoura é essencial, mas neste momento é crucial que nossas equipes tenham acesso e segurança para distribuir alimentos às famílias presas nos conflitos no Alto Nilo — para tirá-las da beira do abismo e evitar a fome”, concluiu Mary-Ellen McGroarty.