O alto comissário de direitos humanos das Nações Unidas, Zeid Ra’ad Al Hussein, afirmou que o tempo de “respostas fragmentadas” e de “agir sutilmente” frente à situação do Burundi acabou. Na quinta-feira (17), o representante da ONU pediu à comunidade internacional para que tome as medidas necessárias para evitar uma guerra civil no país.
Segundo Zeid, um confronto poderia ter graves enfoques étnicos e consequências regionais alarmantes. Ele apelou aos países vizinhos do Burundi a desempenhar um papel construtivo diante da crise, por meio do monitoramento das fronteiras e, possivelmente, do uso de drones para deter a entrada de armas, além de apelar para o governo para que tome medidas para desarmar os grupos que o apoiam.
A crise política no Burundi começou em abril deste ano, depois que o presidente Pierre Nkurunziza decidiu concorrer e ganhar um controverso terceiro turno – considerado inconstitucional pelo Acordo de Arusha. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Zeid e uma série de representantes das Nações Unidas, pediram pela retomada do diálogo no país, que foi suspenso em meados de julho.
“A situação no Burundi demanda uma resposta robusta, decisiva por parte da comunidade internacional. Eu pedi ao Conselho de Segurança, no mês passado, para tomas as medidas necessárias para parar a violência contínua e evitar um conflito regional, incluindo proibições de viagem e congelamento de bens”, pontuou.
O alto comissário também falou sobre o desespero dos burundianos diante do conflito, que precisam se deslocar, ou ainda, os que permanecem em suas casas. “Uma população amedrontada, desinformada, alimentada por uma dieta de discurso de ódio e paranoia, pode ser recrutada para o caminho da violência para qualquer um dos lados do impasse político atual”, destacou.
Após os ataques aos acampamentos de militares na capital do Burundi, Bujumbura, no dia 11 de dezembro, a porta-voz do comissário de direitos humanos das Nações Unidas, Cécile Pouilly, pediu às partes da crise do Burundi para tomarem todas as medidas possíveis para acabar com a “escalada mortal” de violência no país, terça feira (15).
Segundo Pouilly, depois do episódio, forças de segurança realizaram intensas buscas nas casas dos bairros de Musaga e Nyakabiga, onde prenderam centenas de homens jovens, e, supostamente, realizaram execução sumária de muitos deles e levaram outros para localidades desconhecidas.
País está entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo
A diretora de emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Afshan Khan, enfatizou que as crianças estão sofrendo com as consequências da violência em Burundi, ao passo que muitas foram mortas, feridas e detidas arbitrariamente, e muitas outras estão vivendo com o som constante de tiros e granadas. Ela acrescentou ainda que crianças devem ser protegidas de todas as formas possíveis.
Segundo o UNICEF e o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 80% das famílias estão abaixo da linha de pobreza no país, 7% passam por severa insegurança alimentar, e 58% das pessoas sofrem desnutrição crônica, colocando o Burundi na 184ª posição de 187 países no Índice de Desenvolvimento Humano.
Antes da crise, o financiamento dos doadores era responsável por metade do orçamento de Burundi, no entanto, atualmente muitos doadores bilaterais suspenderam as doações devido ao momento de instabilidade do país, deixando muitas crianças e mães sem atendimento na área da saúde e a população sem serviços públicos básicos.
Segundo agências da ONU, na última semana, ao menos 100 pessoas foram mortas por violência e, no total, estima-se que 340 foram assassinadas desde abril de 2015.