Repressão em protestos provoca mortes e detenções em Angola

0
136
Protestos e barricadas em Luanda – Foto de manifestantes compartilhada nas redes sociais

Com informações do Friends of Angola

Nesta terça-feira (29 de Julho), Luanda, capital angolana, amanheceu com ruas vazias, comércios fechados e a ausência quase total de táxis e mototáxis após uma explosão social desencadeada pela retirada de subsídios ao combustível. O saldo provisório, segundo a Polícia Nacional de Angola, é grave: quatro mortos, mais de 500 detenções, dezenas de lojas saqueadas e veículos destruídos. A onda de violência eclodiu após a paralisação convocada pela Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA), em protesto contra o aumento de 47% no preço do gasóleo, que passou de 200 para 300 kwanzas por litro.

A faísca foi uma greve de três dias convocada pela Associação Nova Aliança dos Taxistas (ANATA), em Luanda. Além de rejeitar o reajuste como “injustificado”, os motoristas exigiram o cumprimento de promessas antigas: regulamentação das paragens de táxis e a criação de uma carteira profissional para a categoria.

Rapidamente, o movimento setorial deu lugar a manifestações espontâneas por toda Luanda e em outras regiões do país. Em bairros como Viana, Cazenga, Benfica e Kilamba, moradores tomaram as ruas para protestar não apenas contra o preço dos combustíveis, mas contra o aumento do custo de vida, a má governação e a ausência de proteção social.

Explosão de Violência e Repressão

Testemunhas relataram cenas de saques em mercados informais, ataques a pequenos comércios, queima de pneus e confrontos com forças policiais. Agentes de segurança fizeram muitos disparos contra a população, além de usarem gás lacrimogéneo. Diversos civis foram detidos, incluindo ativistas conhecidos do movimento cívico.

Em nota conjunta, entidades como Friends of Angola (FoA), Associação OMUNGA, FORDU, ALDA e Associação Upangue criticaram duramente as medidas do governo e os efeitos desproporcionais sobre os mais vulneráveis.

“A remoção dos subsídios, sem salvaguardas para os mais pobres, representa uma violação grave dos direitos econômicos e sociais de milhões de angolanos”, alertou o comunicado.

As organizações destacaram que o aumento impacta especialmente os trabalhadores informais e famílias de baixa renda, dependentes do transporte público. Segundo elas, reprimir manifestações em vez de promover diálogo só aprofundará a crise.

Nas redes sociais, a revolta ganhou força com comparações irônicas: como pode o terceiro maior produtor de petróleo da África ter combustíveis tão caros, enquanto serviços públicos permanecem sucateados e as receitas do Estado são vistas como mal geridas?

Protestos e barricadas em Luanda – Foto de manifestantes compartilhada nas redes sociais

Governo Reage com Alerta de “Vandalismo”

Em resposta, o governo angolano defendeu a reforma como parte de uma estratégia para modernizar a economia e reduzir a dependência do petróleo. O Ministério do Interior classificou os protestos como “atos de vandalismo e sabotagem” e prometeu restaurar a ordem.

Críticos, no entanto, denunciam a ausência de mecanismos de proteção social e transparência no processo. Sem alternativas de transporte público, sem programas de compensação para os mais pobres e sem escuta à sociedade civil, as reformas têm sido vistas como punitivas e excludentes.

Protestos e barricadas em Luanda – Foto de manifestantes compartilhada nas redes sociais