Por Gerson Brandão, Por dentro da África
Poucos discursos marcaram nossa história tanto quanto o do ex-primeiro-ministro congolês Patrice Lumumba no dia em que o país se tornou independente. No dia 30 de junho de 2020, a República democrática do Congo celebra 60 anos de independência e marca também 60 anos de um dos momentos mais importantes da luta diária contra o racismo.
“Sabíamos que nas cidades havia casas magníficas para os brancos e barracos em ruínas para os negros. Conhecemos sofrimentos atrozes impostos em função de opiniões políticas ou crenças religiosas; exilados na nossa própria terra natal, a vida era muito pior que a própria morte”. Patrice Emery Lumumba, 30 de junho de 1960
Na cerimônia de independência, o rei Baudoin da Bélgica, bisneto do antigo colonizador rei Leopoldo II, cuja pilhagem e desmandos onde hoje é a República Democrática do Congo pode ser considerada, de longe, como o episódio mais nefasto da história colonial europeia. Apesar do passado comprometedor, o Rei Baudoin fez um discurso extremamente paternalista, onde, inclusive, elogiou as realizações e gestão de seus antepassados.
Patrice Lumumba, o primeiro líder legalmente eleito da República Democrática do Congo (RDC), foi assassinado em janeiro de 1961. Um crime que foi o ápice de duas tramas de assassinato planejadas pelos governos dos Estados Unidas e Bélgica, que usaram cúmplices congoleses e um esquadrão de execução belga para concretizar a ação. A morte de Lumumba foi considerada pelo escritor belga Ludo De Witte como “o assassinato mais importante do século XX”.
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Com o início da Guerra Fria, os EUA e alguns aliados europeus não pareciam preparados para permitir que os africanos tivessem controle efetivo sobre recursos naturais estratégicos, incluindo o urânio congolês que foi utilizado na preparação das bombas atômicas atiradas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, assim como era impensável que esses mesmos recursos minerais poderiam vir a ser explorados pelos soviéticos. Foi neste ponto que a determinação de Patrice Lumumba de alcançar total independência e ter total controle sobre os recursos do Congo, a fim de utilizá-los para melhorar as condições de vida do povo congolês foi visto como uma ameaça aos interesses dos EUA e de alguns países europeus.
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No início de setembro de 1960, depois que Lumumba pediu ajuda militar soviética, a CIA foi autorizada a assassiná-lo e a incentivar todas as conspirações contra ele. No entanto, as tentativas de assassinato da CIA foram frustradas por membros da força de paz da ONU, enviados ao país logo depois da declaração de independência e que tinham entre outras tarefas, proteger a residência do Primeiro-Ministro.
Projetado pelo ex-presidente Mobutu (então um coronel e ajudante de ordens do primeiro-ministro), e pelo governo belga, o assassinato de Lumumba, em plena Guerra Fria, foi também motivado pelo que Lumumba viesse a se tornar o “Fidel Castro africano”.
Quando os belgas foram obrigados a transmitir o poder aos locais, havia apenas três africanos em cargos de direção na administração do Congo e menos de 30 congoleses haviam conseguido um diploma de ensino superior em todo o país. Os belgas não fizeram absolutamente nenhum esforço para preparar os congoleses para a independência, acreditando que, depois que isso acontecesse, a vida continuaria como antes, sob influência belga. Entretanto, Patrice Lumumba claramente não tinha intenção de deixar isso acontecer.
Para muitos, o verdadeiro legado do rei Leopoldo e dos belgas que governaram o país até 1960 foi o caos na região desde então e a corrupção como forma de governo.
Patrice Emery Lumumba foi um dos personagens-chaves da África contemporânea, livre do poder colonial e, para entender o continente hoje, é vital lembrar as palavras que ele deixou em sua busca da libertação, progresso e desenvolvimento da África.
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http://africultures.com/le-discours-dindependance-de-lumumba-9826/
https://news.un.org/en/spotlight/patrice-lumumba-brian-urquhart