O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu urgência no combate à violência sexual em conflitos armados, uma prática que tem sido usada como “arma de guerra” por grupos em confronto.
Guterres lembrou que refugiados rohingya fugidos de Mianmar expuseram a ocorrência de numerosos estupros coletivos de meninas e mulheres nas suas comunidades no norte do país.ente horrorizado” com os testemunhos de sobreviventes de violência sexual.
“O mundo está se tornando cada vez mais consciente da onipresença da violência sexual e de gênero relacionada a conflitos”, afirmou o chefe da ONU. “Temos de fazer tudo em nosso alcance para acabar com o horror e o estigma que afeta centenas de milhares de meninas e mulheres, bem como homens e meninos, em todo o mundo.”
A congolesa e defensora dos direitos das mulheres, Julienne Lusenge, chamou atenção para abusos como escravidão sexual e casamento e trabalho forçados envolvendo mulheres em contextos de conflito. A ativista lidera uma coalizão de organizações na República Democrática do Congo que ajuda vítimas de violência sexual a acessar a Justiça.
“Durante o mês de fevereiro, o nosso centro médico, Karibuni Wa Mama, em Bunia, recebeu em uma semana 28 crianças, incluindo uma de dois anos”, que eram todas “vítimas de sérias violências sexuais”, disse Julienne, que é diretora do Fundo para as Mulheres Congolesas e presidente do Solidariedade Feminina pela Paz e Desenvolvimento Integral.
“Continuamos recebendo mulheres, (que foram) escravas sexuais de vários grupos armados, em nossos diferentes escritórios. Elas estão sofrendo com escravidão sexual, mas também com casamento forçado, trabalho forçado, violência mental, física e econômica, bem como tratamento desumano e degradante.”
Peter Maurer, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, alertou que o mundo testemunha um aumento da violência sexual em conflitos armados — o que representa uma grave falha de proteção.
“Estamos pedindo aos Estados que reafirmem o seu compromisso com o direito internacional humanitário”, afirmou o dirigente. “A lei é clara: estupro e outras formas de violência sexual são violações. As Convenções de Genebra tornaram essa proibição clara e universal. E no entanto, 70 anos depois, continuamos a ver falhas de comportamento e de responsabilização.”
Segundo Maurer, a violência sexual e de gênero é usada como tática de guerra para desumanizar as vítimas e desestabilizar as comunidades.
Após o anúncio do apelo conjunto, a ONU e a Cruz Vermelho se comprometeram a escutar os sobreviventes e vítimas desses crimes, a fim de permitir que as suas vozes sejam ouvidas e também para apoiá-los por meio de organizações locais em zonas de conflito, em particular as organizações de mulheres.