Por Leonardo Lupi, Por dentro da África
Vê-se que agora preocupam-se com a questão migratória. Não sabem onde abrigar tanta gente em locais tão pequenos e tão exclusivos.
Ora, o que leva os homens a abandonar seus lares? Talvez a ausência destes.
A deixarem suas terras? Talvez a hostilidade destas.
Vê-se que nações são devastadas, culturas se perdem, e preocupam-se apenas com as consequências desta tragédia.
Os homens que migram não ambicionam tal jornada. A fazem por ordens maiores, forças do destino, dissabores inevitáveis. Partir é sempre doloroso – só se parte quando ficar significa algo pior, ainda mais triste, ainda mais trágico.
Partir é rumar em direção à dúvida. É vagar entre incertezas e embarcações inseguras, viver cercado pelo medo e por muros que cercam as fronteiras entre países. Refugiar-se pelo mundo é ser sitiado de seu próprio mundo, perder seu canto, perder-se pelos cantos. Ser refugiado é ser cidadão de um não-lugar.
Escolheriam os homens, então, refugiar-se? Os desatinos obrigam os seres a desatinar-se, dar adeus à um inferno conhecido e ir em busca de um paraíso inexistente, condenando-se a vagar em um Umbral até o fim dos dias.
Refugiar-se é não ter escolha. É diluir-se em multidões de esfomeados, desnorteados, já desesperançosos. É fazer a travessia em mares nada tranquilos, sob o risco de naufragar nas profundezas do Mediterrâneo, de se afogar no abandono e descaso da humanidade.
Tal qual a criança síria, findada com o rosto colado à areia fria das praias europeias. Tal qual as famílias fragilizadas do Sudão do Sul e da Eritreia, que fogem da fome e da guerra em direção à intolerância e à xenofobia.
O sonho desfaz-se no caminho. Fica pelo deserto do Saara, pelas ilhas mediterrâneas, pelas praias turcas, pelos muros húngaros.
As almas deste destino melancólico seguem a vagar entre África e Europa, Oriente e Ocidente, entre mundos pseudopacíficos e mundos que o próprio mundo abandonou. Não têm lugar em lugar algum, estão distantes de suas próprias vidas, sitiadas de si mesmas.
E as respostas da humanidade a essas tragédias continuam a ser poucas, falhas e, por vezes, impiedosas…