Luaty Beirão e Juan Tomas Ávila: Ativismos, eleições e ditaduras em comum

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Activism in Africa – Foto de Alexandre Costa Nascimento

Por Susan Oliveira, Por dentro da África

Lisboa – Em uma mesa de debates, dois ativistas encontraram-se na “Conferência Internacional Ativismos em África” para apresentarem suas perspectivas de luta em face de duas realidades culturais e linguísticas distintas, mas partilhando algo em comum: Os regimes ditatoriais de seus países de origem.

Juan Tomás Ávila Laurel, escritor, nascido na Guiné Equatorial, escolheu viver exilado na Espanha em protesto ao regime de Teodoro Obiang Nguema, mas retorna a Malabo periodicamente de modo a exercer uma espécie de desafio à liberdade de ir e vir e de expressar-se.

Luaty Beirão, rapper, nascido em Angola, desde que saiu da prisão exerce também o desafio à liberdade de ir e vir e de expressar-se respondendo a convites para falar sobre seu livro e o processo que o condenou com mais 16 companheiros, entre eles, duas mulheres, Laurinda Gouveia e Rosa Conde, sob a acusação de associação criminosa para derrubar o regime de José Eduardo dos Santos.

Juan Tomás disse que falaria em espanhol porque não reconhece a alegada pertença à comunidade de língua oficial portuguesa almejada pelo governo da Guiné Equatorial que, desde 2014, tornou-se membro da CPLP depois de um controverso processo de formalização da sua participação no Bloco sendo um país de língua oficial espanhola.

O escritor destacou o discurso da “unidade nacional”como um dos elementos de consolidação dos regimes autoritários em África porque sua retórica é exatamente aquela que define os opositores como ameaças a tal unidade que o regime autoritário pretende garantir através de eleições viciosas.

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Presidente da Guine Equatorial em pronunciamento na ONU

A ditadura de Teodor Obiang é uma das mais brutais e longevas do Continente africano e, como ocorre em Angola, mantém-se através de mecanismos de apropriação privada do Estado por uma elite caracterizada pela cleptocracia e pelo nepotismo bem como por processos eleitorais reconhecidos como fraudulentos.

Esse aspecto em comum aproxima as duas realidades e os dois ativistas, Luaty e Juan Tomás, na luta por uma possível alternância de poder nesses países como um passo para um futuro democrático uma vez que, para ambos, a democracia em si não se assenta somente na possibilidade de eleição, ou seja, não é um mero exercício de uma democracia formal onde os partidos de oposição contentam-se em fazer parte de uma encenação planejada.

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Jose Eduardo dos Santos em pronunciamento na ONU

Luaty Beirão disse considerar duas possibilidades para as eleições de 2017, em Angola: A de boicote, ao que não necessariamente se deva associar um sentido de campanha aberta, e a de produção de uma frente ampla que uniria os partidos de oposição ao MPLA num programa que sustente a ideia de alternância mais que um programa ideológico. Segundo ele, esse projeto de uma frente ampla já existe como proposta da sociedade civil e dos ativistas e precisa apenas ser aceito pelas forças políticas.

O grande desafio, na perspectiva dos dois ativistas,é a produção de uma nova cultura política que habilite as pessoas a fazerem escolhas, sobretudo de como querem e devem atuar para mudar as coisas que julgarem que devam ser mudadas, recusando-se a apresentarem direcionamentos e receituários para um ativismo consequente e enfatizando que as escolhas e os juízos de valor são a base política para o exercício da liberdade e a construção da democracia as quais a maioria das pessoas não está habituada em Angola e Guiné Equatorial.