Natalia da Luz, Por dentro da África
Há quatro meses, Ramon Esono Ebalé, cartunista nascido na Guiné Equatorial, foi preso após desembarcar em seu próprio país. Conhecido por fazer duras críticas ao presidente Teodoro Obiang, que está há 38 anos no poder, a situação de Ramón permanece sem qualquer previsão, já que o ano jurídico só será reaberto em 16 de janeiro.
“A detenção é um exemplo de que, na Guiné Equatorial, o respeito às liberdades de expressão e pensamento não são garantidas. No caso de Ramon, o abuso não está apenas na prisão, mas na barbaridade da acusação (falsificação de dinheiro e branqueamento de capitais)”, disse a esposa do ativista, Eloisa Vaello, em entrevista ao Por dentro da África.
Eloisa trabalha no Centro Cultural de España en El Salvador. A mudança do Paraguai (onde a família vivia) para o país da América Central exigia o retorno do marido à Guiné Equatorial. Ao chegar para renovar o visto na capital Malabo, em 16 de setembro, Ramón foi preso. Desde então, a esposa está na Guiné Equatorial com a filha do casal.
Atualmente, ela visita o marido aos sábados e domingos. Nos outros dias, o contato com os irmãos do ativista e companheiros da cooperação espanhola no país dão mais detalhes sobre a situação de Ramon, acusado de falsificar 1800 dólares.
Ela acredita que a perseguição política ao marido foi intensificada com a publicação da série “La Pesadilha de Obi” (2013), que denuncia, em 127 páginas, os abusos políticos no país.
“Ramon tem recebido muitas ameaças anônimas, principalmente, pelas redes sociais. Há uma repressão à liberdade, e por isso, é tão importante a repercussão internacional da campanha que pede a libertação dele”, contou a espanhola.
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Pelo seu trabalho engajado e crítico, Ramon venceu, no ano passado, o Prêmio Coragem do Cartoonists Rights Network International. Eloisa e a filha deles receberam o prêmio em Nova York, Estados Unidos.
Tutu Alicante, ativista que trabalha para a organização EG Justice, e coordena a campanha pela libertação de Ramon, une esforços para retirar o conterrâneo da prisão Blackbeach, famosa por precárias condições.
“Ele estava muito mal, mas está melhorando. Estamos trabalhando com os advogados para assegurar que o caso dele seja julgado o mais rápido possível”, destacou Tutu.
*Com cerca de 1,2 milhão de habitantes, além do Gabão e São Tomé e Príncipe, a Guiné Equatorial faz fronteiras com Camarões e Nigéria. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2015 das Nações Unidas, o país tinha uma renda per capita de US$ 21.056 em 2014, a maior da África. Apesar disso, existe um abismo entre a riqueza e o desenvolvimento humano. De 188 países no Índice de Desenvolvimento Humano, a Guiné Equatorial fica na 138ª posição.