Por Fernando Guelengue, Por dentro da África
Pelas ruas de Cacuaco, manifestantes usavam frases como: “Juntos por Angola”, “Liberdade já”, “Tudo com Deus é possível”, “Nada é Impossível aos olhos de Deus”, “A justiça de Deus é a melhor”. A vigília, que reuniu cerca de 100 pessoas nesta sexta-feira, exigiu a libertação dos ativistas Itler Jessy Chivonde “Itler Samassuku” e José Gomes Hata “ Cheick Hata” que residem no município de Cacuaco, assim como os seus companheiros detidos desde o dia 20 de junho, sob acusação de golpe de Estado contra o Presidente da República e a desordem pública no país.
A iniciativa foi de um grupo de cristãos e ativistas pertencentes ao movimento de Hip Hop 3ª Divisão (que existe há mais de 14 anos e tem o rapper Hata como o seu líder), moradores da comunidade da Boa Esperança I e fiéis das igrejas locais. Os manifestantes acenderam uma vela com o propósito de “limpar a consciência das autoridades e iluminar as dos seus companheiros” para que haja um julgamento com a justiça de Deus.
A organização solicitou um minuto de silêncio em memória dos libertadores do país que também foram presos políticos do regime colonial português e de todos os presos do país, particularmente os ativistas. Para além de declamações de poesias de libertação, cânticos, orações de intercessão e leituras bíblicas, a organização informou aos participantes o estado de saúde dos ativistas e leu um sermão no livro de Filipenses 1:12-14, na voz do evangelista José Paulino.
Segundo José António Pascoal, membro do movimento 3ª Divisão e irmão do ativista José Gomes Hata, o seu irmão e Hitler cresceram na comunidade de Cacuaco e os cristãos que se encontram no evento conhecem muito bem o comportamento deles e estão solidarizados.
“A igreja é mesmo para velar pelos interesses da comunidade e a detenção arbitrária é do interesse da comunidade”, frisou José em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, sustentando que é necessária união no movimento para se ultrapassar a barreira da ditadura de José Eduardo dos Santos por meio de atividades pacíficas.
Por sua vez, o obreiro e evangelista da igreja cristã José Paulino reconheceu que a detenção dos ativistas mexeu com o país e o mundo, sustentando o papel da igreja para lembrar a justiça.
“Fazer justiça e conviver com os oprimidos é uma tarefa dos religiosos. Hoje não temos vistos os nossos principais líderes falarem sobre Deus porque se apegaram aos partidos políticos”, destacou, considerando que há uma perda de valores espirituais porque os religiosos parecem mais com discursos de políticos.
Ficou definido que, nos próximos dias, os ativistas farão uma vigília isolada para que as autoridades sintam o descontentamento do povo. “Vamos acender uma vela em frente ao portão de cada casa durante uma hora de cada domingo. O evento será isolado e cada um ficará das 21 as 22 horas com velas acesas”, disse o irmão do ativista José Gomes Hata.
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