Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – Neste domingo, durante o quarto dia da vigília que pede a libertação dos 15 ativistas presos desde o dia 20 de junho, as autoridades decidiram desencorajar a participação com dezenas de agentes da corporação. A acusação lançada contra os ativistas é a de alterar a ordem pública por meio de uma suposta rebelião.
A denúncia de reprimir a vigília foi feita neste domingo, após o encerramento forçado da vigília que se realizava no quintal da igreja Sagrada Família, em Luanda, capital de Angola. Alexandra Simeão, escritora e ativista de direitos humanos mostrou-se completamente indignada com a situação, principalmente em relação ao respeito à vida de Luaty Beirão, em greve de fome há 21 dias.
“Não consigo colocar aqui toda as fotos do terror. Pensei que estava num filmes daqueles em que as forças da ordem combatiam bandidos, assaltantes de bancos, no gênero Hollywood”, desabafou nas redes sociais, a coordenadora da campanha de Sensibilização para a Anemia Falciforme em Angola e promotora do Semear Esperança.
Simeão foi mais longe ao afirmar: “a vela que deixo aqui é para a nossa Polícia Nacional, para os jornalistas da TPA e da RNA que agem em função das ordens superiores que recebem, que também têm filhos e não podem perder emprego. Esta vela é para todas as as pessoas que mandam neste país para que os seus corações ganhem luz e olhem para nós sem ódio”.
Segundo o ativista político e economista Francisco Lopes, era mesmo intenção da Polícia Nacional criar um clima de instabilidade para forçar o abandono do local mais cedo, contrariando os três primeiros dias de atividade.
“O instinto repressivo do poder está indo longe demais”, frisa o ativista que defende a necessidade de democratização de Angola. Ele destacou que, mesmo assim (com a presença do aparato policial), os ativistas decidiram continuar com a vigília até que as autoridades reagissem.
” Fomos tão pacíficos que eles não entenderam mesmo a nossa luta. Nos próximos dias, nem que seja necessário vigiar em silencio assim o faremos”, concluiu uma ativista que estava no local. Diante da pressão da polícia, no quinto dia, provavelmente, a mobilização acontecerá no interior da igreja.
Fizeram parte da vigília músicos, políticos, ativistas, enfermeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, docentes universitários, analistas políticos e sociais, crianças, idosos que, com velas e roupa branca pediram a paz. Neste domingo, no final do noticiário da Televisão Pública de Angola, o apresentador Alexandre Cose leu um comunicado no qual o governo considera ilegais as vigílias realizadas desde quinta-feira passada.
[bbp-single-topic id=20789]