Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – Hoje completa 18 dias desde que os ativistas angolanos presos começaram a greve de fome em resposta às represálias do governo. Ao longo dos dias, os angolanos detidos suspenderam a greve, mas Luaty Beirão não. Nesta quinta-feira, houve uma vigília para exigir a libertação imediata e incondicional dos 15 presos que se encontram detidos há mais de 100 dias acusados de golpe de Estado. – Opine no fórum abaixo!
Durante a manifestação, os familiares e amigos do rapper Luaty Beirão foram acompanhar de perto o estado de saúde do ativista. Na saída da prisão, os companheiros alegaram que a saúde do músico necessita de cuidados, já que ele nem mesmo ingere líquidos, o que pode provocar falência de órgãos. A mãe de Luaty reforçou que o filho não vai abdicar da luta contra os abusos do governo de José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.
Durante a vigília, que foi realizada diante da igreja da Sagrada Família, em Maianga, os ativistas alegaram que todos os dias no horário das 18 horas, o grupo fará se mobilizará de forma permanente até que as autoridades tomem alguma atitude em relação à prisão.
Segundo o ativista político Francisco Lopes, Luaty não consegue ficar em pé por mais de três minutos, não tem força para se lavar, está com menos da metade do seu peso, além de sofrer desmaios constantes e perda de memória.
O diretor nacional dos Serviços Penitenciários, Antônio Furtado, confirmou à Radio Nacional de Angola o grave estado de saúde do ativista e pediu que os familiares convençam o jovem de acabar com a greve de fome.
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Por sua vez, o músico angolano Robert Sebastião, conhecido como Bob da Rage Sense, disse que as pessoas estão preocupadas com coisas que não têm relevância para o país e perderam a noção de prioridade, da consciência em relação à construção de uma sociedade livre e democrática por causa do presidente da República.
“José Eduardo dos Santos devia ter vergonha na cara. Ele é o rosto de seus governantes oportunistas e corruptos que pilham as riquezas e arrastam Angola para o abismo social, político e econômico”, desabafou em post nas redes sociais.
O país vivencia um longo caminho rumo à liberdade efetiva dos 15 jovens detidos sob acusação de golpe de Estado no dia 20 de junho. Vários membros da sociedade manifestaram e vêm manifestando publicamente os seus descontentamentos.
“É inaceitável privar a liberdade dos jovens quando deviam tomar outras providências menos graves e aguardarem o julgamento em liberdade”, defendeu o jornalista José Bengui.
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O governo tem sofrido pressão interna e externa por meio de relatórios de instituições de defesa dos direitos humanos, cartas de personalidades, petições e manifestações de cidadãos por todos os meios, sobretudo, nas redes sociais.
“Este governo está apenas a queimar cada vez mais a sua imagem e a dar cartas para o seu fim”, contou um ativista cívico que não quis se identificar para não sofrer represálias.
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