Por Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – Hoje, comemora-se o 73º aniversário de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola e do partido no poder desde 1977.
Pelo menos, até onde eu sei, neste mesmo dia e 20 anos após seu nascimento, em 1963, foi organizada a Marcha de Washington, que culminou com o discurso histórico “Eu Tenho Um Sonho”, de Martin Luther King Jr, ativista político que lutou contra as violações de direitos dos negros norte-americanos por meio de pelejas pacíficas.
Este evento, como conta os relatos de personalidades que o vivenciaram, pretendia apoiar um projeto de lei de direitos civis que bania a discriminação em locais públicos na educação e no emprego, proposto pelo presidente John Kennedy.
Por ironia de destino e uma simultaneidade histórica, no mesmo ano em que o emblemático discurso foi proferido, Eduardo dos Santos, depois do lançamento da luta contra o regime colonial português na cidade de Luanda, deslocou-se à Brazzaville, capital da República do Congo, como primeiro representante do Movimento Popular de Libertação Nacional (MPLA), tendo supostamente recebido uma bolsa de estudo (sem confirmações efectivas) para se formar em engenharia na então União Soviética.
Desde que assumiu o poder em Angola, o dia 28, passou a fazer parte dos festejos do país com atividades comemorativas de forma informal, por meio de inaugurações de infraestruturas, jantares de gala, actividades distintas e até mesmo espetáculos por todo o lado, usando o dinheiro do erário público.
No mundo, este dia é sempre analisado na perspectiva de dar mais oxigênio às lutas contra as violações dos direitos humanos por meio de uma pacifismo ativo e uma filosofia de libertação dos povos. O mesmo acontece em vários países de África, com exceção de Angola por ser a data de aniversário do remoto presidente.
Neste ano, ainda com o anúncio da crise (fabricada) nem mesmo não minimizou os galanteios. Mas não importa muito isso! O fato é que, pela primeira vez, o povo, por meio das mães e familiares dos jovens ativistas detidos há 69 dias, sob acusação de tentativa de golpe de Estado contra o próprio presidente, vai organizar uma marcha no centro da cidade de Luanda.
A diferença entre os dois momentos é que a Marca de Washington reuniu mais de 250 mil manifestantes e a Marcha das Mães, prevista para hoje, em Luanda, certamente não vai agregar nem um terço deste número devido a repressão policial que os manifestantes têm sofrido nos últimos meses.