A contínua instabilidade interna no Burundi precipitou novos fluxos de deslocamento forçado no início de 2017. Com a estagnação das negociações de paz para o conflito doméstico, refugiados buscam segurança em países vizinhos. Por dia, quase 600 burundinenses cruzaram a fronteira rumo à Tanzânia ao longo do mês passado.
Apesar dos esforços de organizações humanitárias para atender os que fogem da violência, a resposta humanitária à crise migratória está comprometida pela falta de terrenos para a construção de novos acampamentos nas nações anfitriãs, alertou a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) na terça-feira (7).
O organismo internacional lembrou que, de abril de 2015 até o início de fevereiro de 2017, cerca de 386 mil pessoas haviam deixado o Burundi. Projeções indicam que o número chegará a meio milhão neste ano. Atualmente, a Tanzânia acolhe 222.271 refugiados burundinenses. Ruanda se tornou o lar para outros 84.866 e, na República Democrática do Congo, vivem outros 32.650 deslocados forçados.
Nesses três países, segundo o ACNUR, faltarão abrigo e serviços básicos para os que vêm do Burundi, caso novas terras não sejam disponibilizadas para a expansão dos campos de refugiados ou para a criação de novos abrigos.
Na Tanzânia, os três acampamentos para deslocados estão com suas capacidades sobrecarregadas. O único que ainda recebe recém-chegados, o campo de Nduta, viu o limite de sua lotação ser ultrapassado — atualmente, mais de 100 mil pessoas vivem no local.
Na República Democrática do Congo, a população do campo de Lusenda dobrou ao final de 2016 e chegou à marca de 25 mil refugiados. Em janeiro de 2017, 1.040 burundinenses foram registrados e encaminhados ao local. O ACNUR informa que mais pessoas aguardam em centros de trânsito para serem transferidas para o acampamento.
A agência da ONU lembra que Lusenda foi ampliado diversas vezes em 2016, mas a expansão não foi suficiente para receber os novos deslocados.
Quase lotado, o campo tem abrigos e residências que foram construídos muito próximo uns dos outros — o que, na avaliação do ACNUR, é um fator de risco para incêndios, sobretudo se novas moradias forem erguidas no local. A falta de terra tornou impossível oferecer aos refugiados lotes destinados à agricultura, o que os ajudaria a se tornar autossuficientes.
Em janeiro, o número de chegadas do Burundi a Ruanda foi estimado em mais de 160 pessoas por semana — o dobro em relação ao ano passado. Muitos dos que chegam vivem sob lonas em hangares comunitários superlotados, esperando a mudança para um abrigo familiar. Além da falta de higiene, as condições de vida nesses lugares apresentam sérios riscos de proteção devido à falta de privacidade.