Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – Um grupo de jovens do município do Cazenga, em Luanda (capital de Angola) organizou, na semana passada, uma palestra sobre o projeto filosófico de nação e a crise de Estado. De acordo com Nuno Dala, um dos debatedores, o simpósio teve como propósito promover a participação do cidadão na vida pública.
-Queremos usar o discurso e a recolha de informações dos cidadãos para resolver problemas básicos desde o nível comunitário ao mais complexo do Estado”, conta o docente universitário, acrescentando que os ativistas querem chamar atenção das autoridades políticas com ações baseadas na continuidade da pressão social e política.
Questionado sobre os mecanismos para garantir a normalidade do país e o que se esperar dos 15+2 (ativistas que foram acusados de golpe de Estado e ficaram presos por um ano), Dala considera que ele tem como prioridade a participação pública dos cidadãos por meio de palestras, simpósios, ações mais práticas que vão além do discurso.
“Não nos assumimos como os que têm a última palavra. Somos uma parte da engrenagem necessária para ajudar o país a mudar”, sustentou.
M´banza Hamza, outro debatedor, afirmou que as discussões têm a ver com o país melhor para todos.
“A própria utopia sobre nós já é um elemento positivo porque as grandes conquistas do mundo começaram como uma utopia e os primeiros passos para desconstruí-las nem sempre percebemos, mas garanto que começamos a construir a realidade que almejamos”, acrescenta.
Sobre a crise de Estado, M´banza explicou que quando as instituições funcionam sob ordens superiores e não com as suas próprias leis, quando há uma ditadura declarada, quando se perde a confiança nas instituições de interesse público, não se tem um governo e sim uma gang.
“O Presidente da República José Eduardo dos Santos é muito mais poderoso que a instituição Presidência da República, o ministro Bornito de Sousa é muito mais poderoso que o Ministério da Administração e Território. Quando nós tememos falar porque podem nos prender, matar ou barrar a nossa família diante de um emprego, estamos em crise de Estado”, frisa o africanista.
Os participantes defenderam a despartidarização das instituições do Estado, a necessidade de todos combaterem a ditadura com consciência.
Quinkola Nsiko, morador do Cazenga, disse que sente medo de ser chamado revolucionário porque o fim deste normalmente tem sido sempre trágico. “Estava com uma ideia meio torta sobre a revolução e foi bom porque percebi que estamos numa ditadura onde fizemos tudo que uma única pessoa manda”, contou o jovem.
Sobre os passos a serem dados para a melhor forma de participação na vida política do país, Nuno Dala declarou que os angolanos precisam se encontrar e se ouvir para discutir as questões relacionadas aos pilares próprios de uma nação e os alicerces do mesmo projeto.
Durante a a palestra, o também pesquisador científico lembrou que o primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, afirmou, em 1975, que Angola era uma nação de várias nações culturais. “Isso é verdade, mas apenas na segunda parte várias nações culturais´. Nós não temos ainda uma nação como tal e sim uma ideia de construí-la”, frisou, acrescentando que essa ideia precisa ser evoluída.
O responsável pela organização do simpósio, Álvaro Quilombo reconheceu que a iniciativa partiu de um conjunto de jovens que tinham como propósito conhecer os integrantes dos elementos do movimento de pressão Central Angola, particularmente os 15+2 e compreender as suas visões sobre Angola.