Os recentes assassinatos de negros nos Estados Unidos por policiais demonstram um alto nível de racismo estrutural e institucional no país, disse em comunicado nesta sexta-feira (8) o especialista em direitos humanos das Nações Unidas, Ricardo Sunga III, que lidera grupo de trabalho da ONU para afrodescendentes.
“Os Estados Unidos estão longe de reconhecer os mesmos direitos para todos os cidadãos. As medidas existentes para endereçar crimes de racismo motivados por preconceito são insuficientes e falharam em impedir os assassinatos”, disse o relator independente em nome do grupo de trabalho.
“É hora de o governo dos EUA afirmar de maneira assertiva que vidas negras importam e evitar mais assassinatos como uma questão de prioridade nacional.”
No texto, o relator também condenou o assassinato, na quinta-feira (7), de cinco policiais no centro de Dallas por atiradores não identificados durante uma manifestação convocada após o assassinato nesta semana de dois homens negros — Philando Castle, em Minnesota, e Alton Sterling, em Louisiana — por policiais. “Também condenamos os ataques contra policiais em Dallas e pedimos que os criminosos sejam punidos”, disse.
Mortes de negros não podem ser ignoradas
De acordo com o especialista, o uso excessivo da força pela polícia contra negros nos Estados Unidos é uma ocorrência regular, sendo que os afro-americanos são duas vezes mais atingidos por tiros que brancos no país.
“O grupo de trabalho está indignado e condena fortemente os mais recentes assassinatos, pela polícia, de dois homens afro-americanos. Essas mortes, que foram filmadas, não podem ser ignoradas. Pedimos imediatas investigações independentes para garantir que os perpetuadores sejam processados e punidos”, disse o comunicado.
Segundo o relator, o grupo de trabalho está monitorando a situação, e expressou diversas vezes sua preocupação ao governo norte-americano sobre as mortes de negros pelas mãos de policiais, pedindo justiça. “O grupo de trabalho está convencido de que a raiz do problema é a falta de responsabilização dos perpetuadores de tais crimes apesar das evidências.”
Visita ao país foi realizada em janeiro
O grupo de trabalho da ONU para afrodescendentes realizou uma visita oficial aos Estados Unidos em janeiro deste ano. Em suas observações preliminares, o painel de especialistas manifestou preocupação com os “níveis alarmantes de brutalidade policial e uso excessivo da força letal cometidos pelos agentes da lei com impunidade”.
Os especialistas fizeram uma série de recomendações ao governo norte-americano, entre elas melhorar a informação pública sobre as violações envolvendo o uso excessivo da força e os assassinatos extrajudiciais cometidos pela polícia, garantido que os casos sejam reportados e investigados de forma independente.
O grupo também recomendou que os policiais sejam processados e, se condenados, punidos com sanções apropriadas, e que as investigações sejam reabertas quando novas evidências estiverem disponíveis.
Os relatores ainda apresentação um relatório abrangente sobre o tema na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU em setembro.