Rafael Marques, de Maka Angola
Um grupo de mães, irmãs e esposas dos 15 ativistas presos desde 20 de junho informou nesta quinta-feira, através de uma carta, que a manifestação que se realizará no dia 28 de agosto para exigir a libertação dos seus familiares.
Segundo a carta – a que o Maka Angola teve acesso via cópia com carimbo de recepção do GPL -, a manifestação começará às 15h00, no Largo da Independência, passará pelo Largo da Sagrada Família e terminará no Largo da Maianga, onde terá lugar a vigília.
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As peticionistas solicitam ao governador Graciano Domingos, “que a manifestação decorra de forma ordeira e de acordo com os princípios da ordem pública e do respeito pelos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos que a ela participarem”, que “se digne ordenar que as forças policiais da província garantam a proteção da referida manifestação”.
Isabel Correia, mãe de preso político Osvaldo Caholo, uma das signatárias da carta, explica ao Maka Angola que “o objetivo da marcha e da vigília é a libertação dos nossos filhos”.
Veterana do MPLA (foi uma grande ativista política do MPLA, na província do Bengo, onde trabalhou durante muitos anos no Comitê Provincial), Isabel Correia falou também sobre a data da manifestação: trata-se do aniversário do presidente José Eduardo dos Santos, que se tornou tão importante quanto o dia da Independência Nacional no calendário político do regime. “É para o presidente José Eduardo dos Santos sentir, se ele é mesmo humano, como pode festejar enquanto manda encarcerar os nossos filhos”, afirma.
Entristecida, recorda ainda os anos em que mobilizou a população local e participou na organização das primeiras visitas do primeiro presidente Agostinho Neto, assim como das primeiras de José Eduardo dos Santos à província. O seu pai, José Francisco Correia, foi preso político no regime colonial português e militante da primeira hora do MPLA. “Hoje o seu neto, o Osvaldo, é preso político do regime do MPLA”, desabafou.
Henriqueta Diogo, esposa do preso político Benedito Jeremias, também signatária da carta, refere que “decidimos fazer a marcha no dia do aniversário do presidente para se ver como ele está feliz com o sofrimento que causa ao seu próprio povo, em particular os 15 presos políticos que ele mantém na cadeia”.
“O Benedito nunca participou numa manifestação. A primeira vez que participou num evento cívico foi na palestra onde foi detido”, afirma.
De acordo com Henriqueta Diogo, o seu marido tem sido interrogado várias vezes pelos agentes do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre como conheceu o preso Domingos da Cruz e “por que é seu amigo”.
“O Benedito tem respondido que é livre de escolher os seus amigos. Têm-lhe perguntado também se sabia sobre o golpe de Estado que o Domingos da Cruz supostamente estava a preparar contra o presidente José Eduardo dos Santos”, enfatiza.
Esperança Gonga, esposa do preso político Domingos da Cruz, mostra-se resoluta: “Todos temos medo, mas não recuaremos. Vale a pena perdermos o medo. Já sofremos com a brutalidade policial. Sabemos que o governo não tem vergonha em mandar espancar mulheres indefesas, mas também eles saberão que não recuaremos”.
Na marcha das mães, do passado dia 8, agentes da Polícia Nacional vergastaram Deolinda Luís, mãe de 10 filhos, com bastonadas e permitiram que um dos cães da polícia a mordesse na mão direita.