Domingos da Cruz, Por dentro da África
O poder simbólico não se compagina com a ideia de poder sustentada sobre o dinheiro, força militar, força do feitiço ou outro aspecto qualquer ligado à materialidade. O poder simbólico, talvez seja compreensível com exemplos existenciais.
Mas a compreensão do papel, da influência e do conceito poder simbólico não é possível para as pessoas moralmente decadentes; sem qualquer refinamento civilizacional (não no sentido etnológico), mas, sim, de acordo com os marcos da «ética universal mínima», como diria a filósofa espanhola, Adela Cortina.
Algumas personalidades carregam poder simbólico como extensão da instituição da qual fazem parte. A maior parte das pessoas constrói este poder com muito custo; com privações e superação, que parecem ultra-humanas em muitos casos. Um exemplo de personalidade cujo poder simbólico não carece empenho, é o Papa. Isto decorre do simbolismo da instituição que dirige. Tal simbolismo personifica-se, como que automaticamente.
Claro está, que isso não sucedeu com Martin Luther King. Tal sorte estendeu-se para Thomas Sankara e tantos outros homens «impolutos» que o mundo conheceu. Para estes, o poder simbólico que possuem foi um construído duramente. Alguns pagaram com a vida. Tanto os que construíram o capital simbólico com suor, sangue e lágrimas, quanto os que o alcançaram por força da transferência institucional simbólica, podem perder tal poder. Só depende do discurso e do percurso.
Quando o Papa fala, as suas palavras estão carregadas de poder simbólico. Capaz de exercer grande liderança. Esqueça o simbólico como menos eficaz na transformação da realidade. Um livro que recomenda as pessoas a optarem pela não-violência, pode ter elevada taxa de sucesso. No entanto, um livro é constituído de símbolos linguísticos, por meio dos quais, o autor exerce poder simbólico sobre as pessoas e as sociedades. Com toda a tradição literária, simbólica, é claro, sobre o libertarianismo e o liberalismo, foi possível moldar o mundo com o que se chama hoje, democracia e livre mercado.
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No campo dos negócios, naquelas sociedades onde há um grau de elevada eticidade, as empresas que melhor conseguem estabelecer uma relação de confiança, personalista no trato com os clientes, são as que têm mais sucesso. Por que? Porque fundam-se sobre o poder simbólico. Atrair os clientes, não só com os bens e serviços que têm para prestar e disponibilizar, mas também, o valor agregado que oferecem ao cliente, ao vender o bem. Em suma, são marcadas pela ética mínima.
Por que milhões de pessoas à volta do mundo têm respeito por Nelson Mandela? A resposta é simples: ele carrega um poder simbólico. Mandela nunca teve banco, refinaria de petróleo, mina de ouro, empresa de telecomunicações ou outro bem avaliado em bilhões para comprar as pessoas com vista a lhe aplaudirem.
Por incrível que pareça, não é o dinheiro, nem é o petróleo, não é o coltan que molda as sociedades. Os que moldam as sociedades, são os homens e mulheres com poder simbólico; são os homens com paixão pela moralidade. Deste exercício férreo da moralidade, coragem e inteligência, atrai as pessoas como se de um íman fosse. Assim se molda a sociedade com o bem.
Voltemos ao Mandela. A fundação com o seu nome, tem um projeto interessante. Reproduzem camisas e camisolas em série ao estilo que o patrono gostava e outras com o número (46664) de internamento enquanto recluso. E tantos outros objetos simples com a marca Madiba. Atrai milhões de clientes em todo mundo. Quem força as pessoas a comprarem? É porque são muito bonitas tais como as marcas que pululam pelo mundo? Não! As pessoas compram porque Mandela representa liderança, representa capital simbólico, representa elevação civilizacional e modelo de humanidade e sensibilidade.
Que relação se pode estabelecer entre o futuro da «oposição-negócio/negócio-oposição» e o capital simbólico? O seu futuro promissor ou tacanho dependerá da posição que tomaram ante a realidade da subversão da vontade popular nas urnas. Caberá a «oposição-negócio», escolher entre o capital simbólico e os Lexus LX 570.
Os que moldam o mundo e mudam as nossas vidas são as mulheres e homens com coragem, inteligência, criatividade e audácia em todos os campos: na ciência, na arte, no desporto e na política. Temos estas personas no cenário político angolano?