África em Crônica em Angola: “Seu crime: sonhar com a democracia”

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maka 2Por Felizardo Costa, Por dentro da África

Luanda – No dia 20 de junho deste ano foram presos 15 jovens angolanos pelas autoridades do país, sob a alegação de que os mesmos estavam a preparar um golpe de Estado. Como prova, foram apresentados alguns materiais que seriam supostamente usados na preparação de uma palestra na qual seria discutido o tema: Como derrubar um ditador.

Segundo a polícia, essa apreensão é resultado de um trabalho da inteligência angolana, contudo, o risível nesta situação é que uma das provas é a lista de um hipotético governo de salvação nacional, criada nas redes sociais pelo jurista Albano Pedro.

O suposto crime começou quando os jovens decidiram dar prosseguimento ao exercício de construção da lista sugerindo nomes para o hipotético governo, porém, o que ficou por dizer, e que se tenta esconder do povo é: Seu crime não foi aquele pelo qual eles foram presos (que para todos os efeitos era o exercício do direito à liberdade de expressão), seu verdadeiro crime foi pensar autonomamente, refletir sobre a situação social e política da sua terra, tecendo críticas às injustiças sociais colocadas à descoberto pelo modo como vive a maioria pobre da população, a ausência de políticas públicas efetivas, a violação dos direitos humanos, a expatriação da dignidade de seus concidadãos, etc. Seu verdadeiro crime foi “desejar demais a democracia.

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O mesmo governo que apregoa espalhafatosamente ser democrático, para quem ainda perde tempo ouvindo os habituais discursos falastrões, que sinalizam claramente o delírio de um Estado Autocrático, acabou dando um tiro no próprio pé, deslegitimando assim, os argumentos de seus retratores mais fiéis, pois agora vai ser mais difícil, autoproclamar-se “livre e democrático”, quando a solução contra opiniões dissidentes seja a privação arbitrária das liberdades individuais como acontece no momento.

Democracia e liberdade de expressão, diante de uma ação como esta não passam de falácias descontextualizadas, ou que servem apenas para como dizemos em Angola “fintar” (driblar) a comunidade internacional. E como sempre, lá estão também as organizações que se autodenominam representantes da comunidade civil legitimando ações claramente criminosas.

Se por ignorância pura, ou por que elas foram sequestrados por promessas corruptoras, de todo modo, apenas demonstram a fragilidade ética e a pobreza de espírito desta pseudo sociedade civil.

Não esqueçamos, porém, que este sonho de liberdade é perigosamente contagioso e epidêmico e uma vez que as pessoas acordem para ele, torna-se cada vez mais difícil de sufocá-lo! Foi assim nas lutas pela independência, de que muitos desses atuais algozes participaram, ou será que se esqueceram nossos atuais “heróis”, que houve um tempo em que eles próprios eram esses jovens “rebeldes”, “desocupados” e acima de tudo, sonhadores?

Pois bem, aporrinharam e acorrentaram os filhos e agora, como se não bastasse é a vez das mães, que reivindicavam apenas o direito de ter seus filhos de volta. Considerando que as acusações contra eles eram incertas e o estado parecia negar-lhes maliciosamente um tratamento que tivesse a mesma justeza dos seus sonhos.

As mães dos 15 angolanos que já sofrem com os achaques da incerteza causada pela prisão dos filhos foram igualmente privadas do seu direito constitucional de manifestarem-se e quando decidiram não se calar, foram brutalmente espancadas, ameaçadas fisicamente inclusive com uso de brigadas caninas.

Seu tratamento não deferiu daquele que muitos regimes autoritários reservam aos seus cidadãos, deixando claro que a única igualdade que oferecem é pelo tratamento degradante para todos quantos não façam parte da elite, ou seja, a maioria da população, categoria marginal na qual enquadraram as mães dos 15, que representam verdadeiramente todas as mães angolanas. Essas sim representam as mulheres angolanas muito mais que aquelas que se manifestam apenas para contrapor o direito de opor-se a um poder hoje hegemônico no nosso querido país.