Vista como irmã bastarda, África do Sul aposta nos Brics para se desenvolver

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Maputo – Desde a entrada da África do Sul, oficializada na cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), em 2010, analistas de mercado, economistas e até o próprio criador da sigla, passaram a criticar a participação do país. Quando o enfoque é demografia e crescimento econômico, o candidato preferido teria sido a Nigéria, grande produtor petróleo. No entanto, apesar da descrença, e tendo a China como guardiã, o país se esforça para aproveitar o lugar no time de potências mundiais e provar que é digna da nomeação.

“Ser parte do maior grupo político e econômico pode beneficiar o desenvolvimento interno”, salientou nesta quinta-feira (01/11) o vice-ministro sul-africano de Relações Exteriores Ebrahim Ebrahim. “Nossos parceiros dos Brics entendem e compartilham de nossas aspirações por crescer, assim como desenvolver o resto da África”, afirmou o sul-africano, que anunciou o interesse de seu país de sediar um possível banco do grupo. Os Brics propõem a criação de uma instituição para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento em seus países.

Sob uma perspectiva econômica, quando a África do Sul é comparada com o Brasil, China, Índia, os números estão aquém de uma potência emergente. De acordo com o FMI, o PIB (Produto Interno Bruto) da África do Sul foi revisado para menos de 3.2% para 2.7% este ano, a meta será atingir 3.6% em 2013 e 4.2% em 2014. Enquanto isso, os outros países da África esperam crescer em torno de 7% a médio e curto prazo. Já China e Índia, por outro lado, apostam no crescimento entre 7% e 10%.

Os países do Brics juntos equivalem a 15.17% do volume das exportações globais, o que contribui cada vez mais para a importância político-econômica do bloco. A China sozinha lidera mais de 12% desse volume. Se avaliarmos os índices de desemprego dos países membros, a África do Sul registra 24%.

Já na análise demográfica, a África do Sul também possui a menor população na comparação com Brasil, Rússia, Índia e China, com seus quase 50 milhões de habitantes. Mas, apresenta grande taxa de crescimento populacional, similares ao Brasil e Índia.
Para a doutora em Relações Internacionais e pesquisadora visitante da organização Brics Policy Center, Alessandra Arkhangelskaya, a inclusão da África do Sul no bloco foi muito relevante para o continente e não deve ser analisada isoladamente. “A África e sua agenda estão incluídas nas estruturas principais dos Brics. A África do Sul se posiciona como uma potência regional, assim como uma porta para todo o continente. Mesmo com todos os desafios sócio-econômicos, não há dúvidas sobre sua liderança regional e seu papel deve ser reconhecido internacionalmente.”, revela.

A pesquisadora lembra que a Rússia é o maior país do mundo, possui muitos recursos naturais e também desafios assim como os outros participantes dos Brics. “A Rússia tem uma tendência demográfica diferente, pois todos os países do bloco estão em crescimento demográfico, mas o mesmo não acontece com a Rússia que tem taxas negativas e isso já é um problema”, afirma.

Forte candidato

A Nigéria é o país mais cotado para integrar o Brics e se tornar a maior liderança da África por sua rápida ascensão econômica e populacional. Além disso, está cada vez mais atraindo investidores para seu território. De acordo com o relatório da ONG sul-africana Polity, a taxa de crescimento econômico do país foi de 6.8%, no quarto trimestre de 2010, contra 4.4% da África do Sul no mesmo período. Por outro lado, muitos fatores ainda assombram o país e impedem o seu desenvolvimento, entre eles: instabilidade política, alto índice de desemprego entre jovens, sistema inadequado de educação e corrupção.

“A Nigéria seria uma escolha por ser uma das maiores economias africanas. Porém, em 2010, a África do Sul também figurava em outros blocos econômicos juntamente com alguns membros do BRIC e já era porta-voz do continente em fóruns internacionais. Também é inegável que o  sistema financeiro e de telecomunicações sul-africano estão mais desenvolvido do que em outras nações, além de possuir melhor infraestrutura”, comenta Lucy Corkin (À ESQUERDA), doutora em Ciência Política e pesquisadora visitante do BRICS Policy Center.

Diante do pequeno desenvolvimento econômico sul-africano, os investidores internacionais estão voltando seus olhares para países como Nigéria, Angola e Moçambique, que mostram taxas de crescimento expressivas. “Os investidores reconhecem os problemas internos desses países, mas ficam animados com as perspectivas econômicas dessas nações e projetam maior retorno dos investimentos. Enquanto isso, a África do Sul está perdendo oportunidades”, relata Lucy Corkin.

Grande aliada

O analista de mercado da Saxor, Salim Mahmood, afirma que, apesar de não ser muito comentado, a China foi essencial para a entrada da África do Sul para os Brics.  A potência asiática tem grandes investimentos no país, principalmente nos setores bancário, infraestrutura de mineração, transporte e energia renovável.

“O Banco Industrial Comercial da China (ICBC) tem um investimento maciço de R$ 4,7 bilhões, uma participação de 20% no Standard Bank da África do Sul. A China é o maior parceiro comercial da África do Sul, com um superávit em favor da China. Inclusive, a infusão do Yuan chinês manteve a África do Sul à tona durante a recessão econômica. Também é perceptível que a China tem um lugar de importância na política externa da África do Sul”, acrescenta Mahmood.

A pesquisadora Lucy Corkin concorda que a China enxerga o mercado sul-africano como um canal importante também para o continente. “As empresas chinesas possuem uma posição estratégica na África do Sul e os investimentos permitem adentrar nos países do continente. Além disso, a China sempre recebe apoio sul-africano nos fóruns mundiais”, diz.

Para Madmood, a África do Sul funciona como porta de entrada para África, que oferece acesso a um mercado de um bilhão de pessoas em 61 territórios e 54 países, o que equivale a 15% da população mundial. “Os países do Brics estão crescendo rapidamente e, para garantir isso, eles precisam de commodities sul-africanas”, conclui.

Gleyma Lima e Polyanna Rocha, Opera Mundi