Cerca de 110 atletas refugiados e migrantes, de diferentes nacionalidades, divididos em oito equipes, deram um exemplo de solidariedade, espírito esportivo e integração cultural no domingo (27) na Arena do Grêmio, em Porto Alegre.
A Copa dos Refugiados, sediada pela primeira vez na capital gaúcha, fez parte das comemorações de aniversário da cidade, passando a integrar o calendário oficial de comemorações.
O torneio de futebol, que tem como principal objetivo a integração sociocultural de migrantes e refugiados que escolheram o Brasil como novo lar, reuniu jogadores amadores de Senegal, Angola, Haiti, Venezuela, Colômbia, Peru, República Democrática do Congo, Síria e outras nacionalidades. Todos vivem no Rio Grande do Sul.
O sentimento predominante entre os participantes foi de felicidade por jogar em um consagrado estádio e, acima de tudo, poder representar seus países de origem.
Para Fernando, refugiado da Colômbia que já vive há 14 anos no Brasil, essa foi uma experiência única não apenas pelas partidas de futebol, mas também pela oportunidade de interação entre todos os jogadores.
“Todos estão se dando bem, estamos nos divertindo muito. Mas quando a gente entra em campo, jogamos para valer”, disse ele.
A primeira edição da Copa dos Refugiados em Porto Alegre foi uma realização da Associação Antônio Vieira (ASAV) em parceria com a agência de inovação social Ponto, que contou com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e de entidades e organizações da sociedade civil.
Além dos jogos, foram realizadas ações de inclusão social, digital, cidadã e trabalhista, assim como a entrega de brinquedos a crianças refugiadas.
Para Karin Wapechowski, coordenadora da ASAV, a realização da Copa dos Refugiados no Rio Grande do Sul é importante para fortalecer o vínculo entre migrantes e refugiados com a sociedade gaúcha.
“O evento permite que a sociedade entenda que essas pessoas podem contribuir para o engrandecimento das empresas, e agregar valores às comunidades onde vivem por trazerem uma rica bagagem cultural”, acrescentou.
A equipe Coletivo, de Caxias do Sul, sagrou-se como grande campeã desta edição. Formada por imigrantes senegaleses, o time disputou a final com a Colômbia que só foi definida após uma emocionante sequência de pênaltis.
“Somos todos campeões”, afirmou Papeassane Isarr, integrante da equipe africana, ao erguer o troféu. A empolgação da torcida, que celebrava os gols marcados por todas as equipes, mostrou que o espírito de integração e solidariedade não estava só no campo.
A Copa dos Refugiados foi idealizada em 2014 pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo em parceria com o ACNUR e refugiados. Atualmente, a Copa é conduzida pela ONG África do Coração, dirigida pelo refugiado congolês Jean Katumba, que acredita que “o futebol é uma forma de fazer com que pessoas de culturas tão diferentes sejam iguais”.
Jean considera o Brasil um país acolhedor e que, como reflexo, tem refugiados de mais de 70 diferentes nacionalidades. O evento já teve três edições realizadas em São Paulo, e a quarta ocorrerá em 2 de abril.
Além de São Paulo e Porto Alegre, o refugiado sírio e coordenador da Copa, Abdulbaset Jarour, afirmou que já se planeja a realização do evento em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
Jean e Abdulbaset afirmaram ter sido uma honra ter realizado o evento no dia do aniversário de Porto Alegre e, como forma de reconhecimento, pediram ao prefeito da cidade, Nelson Marchezan, para entregar o troféu à equipe campeã.
O ACNUR reconhece a importância da Copa dos Refugiados como exemplo de protagonismo e afirmação de autonomia por parte das pessoas refugiadas e espera que iniciativas semelhantes surjam a partir deste evento, ressaltando a importância do esporte como processo de integração.