Natalia da Luz – AHE- 09/12/2012
Tripoli – Um verdadeiro ativista pensa nos benefícios em que a sua bandeira pode trazer não apenas para parte, mas para a maioria da população. O que o move é a coragem, a crença em um convívio mais justo entre os membros de uma sociedade. Monsour El-Kikhia, que enviou à ONU (Organização das Nações Unidas) a proposta para a fundação do Dia Internacional de Pessoas com Deficiência, era o orgulho dos líbios na luta pelos direitos humanos. No meio de sua longaestrada, ele encontrou Gaddafi, por quem foi capturado.
– O Dia Internacional de Pessoas com Deficiência é sempre muito comemorado na Líbia, mas, neste ano, tivemos uma coincidência triste. Em meio a nossa comemoração, tivemos a confirmacão de que os restos mortais do mentor do projeto e defensor dos direitos dos deficientes haviam sido encontrados – desabafa, em entrevista exclusiva ao Ahe!, o presidente do Comitê Paralímpico Líbio, Khaled Rigdi.
Especial: ahe! visita a Líbia em homenagem às pessoas com deficiência
Em 1976, o líbio nascido em Bengazhi, onde a revolução líbia começou, enviou a proposta para a criação de um dia para que o mundo pudesse refletir, discutir e buscar saídas para uma sociedade mais integrada, onde seus talentos múltiplos, incluindo as pessoas com deficiência, pudessem participar ativamente. Anos mais tarde, em 1992, a Assembleia das Nações Unidasaprovou a sugestão, que é motivo de orgulho para os líbios.
Inimigo de Gaddafi
Capturado pelas tropas de Muamar Al-Gaddafi em 1993, durante a Conferência Árabe sobre Direitos Humanos, no Egito, Monsour, que foi embaixador líbio na ONU, passou 19 anos desaparecido. Segundo dados da investigação, osequestro foi organizado com a cumplicidade doregime de Hosni Mubarak, presidente do Egito,deposto durante a Primavera Árabe (sequência de protestos políticos que atingiu o Norte da África e o Oriente Médio iniciada em 10 de dezembro de 2010). O corpo de Monsour foi encontrado na capital Trípoli, em um local usado pelo Serviço de Inteligência do ex-ditador líbio, morto em 20 de outubro de 2011.
– Durante o regime de Gaddafi, não podíamos pronunciar o nome de Monsour. Era proibido falar sobre aqueles que eram considerados inimigos do governo. Mesmo desaparecido durante tantos anos, não tínhamos como lutar e exigir investigação. Arriscaríamos a nossa própria vida. Agora, sabemos o que aconteceu e sentimos muito em perdê-lo – lamenta Nadia Abdulssalam, responsável pela comunicação do Comitê Paralímpico Líbio, sobre o conterrâneo completaria 81 anos no último dia 2 de dezembro.
– Expectativa para o paradesporto após era Gaddafi
O regime de Gaddafi, que durou 42 anos, ameaçava, torturava e aniquilava sua oposição. Os seus feitos não atingiam seus inimigos individualmente, mas toda a sociedade, condenada a não erguer a voz. Hoje, os líbios sentem o sabor da democracia e homenageiam Mounsour pela coragem e conquista em face de um regime de tamanho terror.
– Eu estou confiante de que o espírito dele estará mais feliz, quando ele vir que os valores e princípios pelos quais lutou, como justiça, liberdade, democracia e a coexistência entreideias e pensamentos, começam a existir – disse em pronunciamento à nação o atual presidente do país Mohammed Magarief.
Exemplo para a diplomacia
Para o embaixador brasileiro Afonso Álvaro Carbonar, na Líbia desde agosto deste ano, o momento de transformações em que o país vive é apropriado para a inserção e reflexão de novos caminhos que valorizem as pessoas com deficiência física e o paradesporto. No próximo dia 13,será celebrado o Dia Árabe de Pessoas com Deficiência, data que também foi influenciada por Monsour, após a criação do Dia Internacional pela ONU, em 1992.
– A Líbia está saindo de um período de guerra civil, onde teve parte da população ferida psicológica e fisicamente. Há um número muito grande de líbios que foram mutilados e tornaram-se deficientes. A celebração deste dia é a celebração do povo e, na Líbia, ela se tornará cada vez mais importante. Monsour foi um grande diplomata, um exemplo para o mundo. O seu ativismo é motivo de orgulho aqui e, por isso, a data na Líbia tem um vulto maior – comentou o brasileiro sobre o ex-ministro das Relações Exteriores.
Preparação psicológica para entrar no esporte
A celebração organizada no país pelo Comitê Paralímpico Líbio e pela organização Free Libya homenageia as personalidades do país por sua luta em defesa das pessoas com deficiência. Nestes episódios, os homens do esporte são sempre citados como grandes exemplos. Apesar do caminho, o esporte não é o primeiro passo…
– As pessoas precisam ser preparadas psicologicamente. Depois dessa primeira etapa, elas poderão pensar no esporte. Esses líbios vivenciaram a guerra e é difícil para elas aceitarem que estão em outra parte da sociedade. Enviamos sugestões para o governo criar institutos para absorver essas pessoas também pelo lado do esporte – completou o presidente do Comitê Paralímpico.