“Um olhar diaspórico sobre a imprensa no Brasil”, por Gabriel Ambrósio

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africaGabriel Ambrósio, Por dentro da África

Goiânia – Nas notícias das 20 horas, se preferirem, das 8 da noite do Jornal Nacional, um dos jornalistas falou sobre o ebola, doença mais mortífera dos últimos anos. Mas, o que me levou a escrever esse texto, é o fato de esse jornalista ter dado uma informação errada em todo território brasileiro! Primeiro, ele disse que o ebola já matou mais de 1900 pessoas na África do Leste. Geograficamente, aquela região nunca foi leste, e o maldito vírus ebola está em alguns países da África Ocidental e não em todos os países! Só para esclarecimento, constam os infetados nesta região do continente: Guiné Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. Esses têm casos confirmados pela própria Organização Mundial de Saúde, junto com a organização Médicos Sem Fronteiras.

Desde que cheguei ao Brasil, vejo muitos erros na imprensa, principalmente na rede Globo, falando sobre o continente. Primeiro, eles coisificam a África como se fosse uma coisa pequena, depois, nunca sabem especificar que parte da África estão querendo falar. Falam apenas “África”. Para compartilhar, outro jornalista da mesma emissora disse uma vez que havia “caído um avião na África”! Eu estava passando quando ouvi e me assustei! Um avião caiu em todo continente-África? Não pode ser um avião, só pode ser meteorito! Enquanto ministrava um minicurso sobre literatura afrikana, no encontro nacional de estudantes de Letras da UFMG, comentei sobre o fato, destacando a tamanha falta de respeito com o berço da humanidade, apesar da tecnologia, meios digitais, jornais, revistas e muitos sites que explicam que a África não é um país.

O exemplo de um site é o Por dentro da África, monitorado pela jornalista Natalia Luz, que retornou recentemente de Angola (um país afrikano)[2]. Ela compartilha informações reais e não simples especulações como fizeram os europeus no passado, construindo os estereótipos vivos até hoje. Esses estereótipos são reproduzidos por muitos professores, jornalistas, estudantes, etc, apesar da existência de uma lei federal Lei 10.639/03[3], que obriga o ensino da cultura e história da África nos currículos escolares junto com a cultura afro-brasileira. A outra lei é a 11.645, de 2008.[4]

Gabriel Ambrósio

Para aprender um pouco sobre a África, vale procurar pesquisadores que são especialistas em assuntos afrikanos como Carlos Moore, Kabenguele Munanga[5], Jacques Delepchin[6], Carlos Serrano[7] e outros que trabalham em universidades. No ensino fundamental, há vários professores (negros e brancos) que trabalham as leis supracitadas. A nossa missão deve ser desmitificar a África[8]! Minha missão não é explicar ou ganhar fama, mas esclarecer ou redizer o que muitos já disseram. Como jovem, sinto a necessidade de ajudar os que estão distraídos por certo conforto, ou por ignorância em relação à realidade afrikana e sua diáspora.

“O verdadeiro conhecimento aqui reconstituído muito mais sucintamente do que me foi explicado, era de que a história havia sido “embranquecida” nos livros de história do homem branco e que o homem preto sofrera” uma lavagem cerebral por centenas de anos”. O homem original era preto no continente chamado África, onde a raça humana surgira no planeta Terra.” MALCOLM X [9] .

A história precisa ser destruída, principalmente aquela que os europeus ensinaram. No prefácio do livro de Carlos Moore, “África que incomoda”, publicado pela editora Nandyala, encontrei esse trecho: “Os caminhos esses que pressupõem uma ruptura epistemológica profunda com visão herdada da historiografia escravista e colonialista, ou seja, desconstrução de uma África mítica ainda presente no imaginário e nas representações coletivas dos brasileiros e sua substituição pelas imagens de uma África real e autêntica, uma África positivamente reconstruída com base nos fatos e acontecimentos históricos verdadeiros e não falsificados. Págs.10- 11.

Independentemente dos problemas africanos, não podemos ignorar a diversidade do continente. Para não cairmos no que Martin Luther King[10] falava – “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Há muitos que preferem viver em silêncio como se a liberdade de pensar e refletir dependesse da riqueza, ou dos outros.

Referências Bibliográficas 

[2] Esse forma da grafia da palavra África, é por razões etnolinguísticas. E essa é melhor forma como afirmação identitária. E essa ideia é compartilhada por jovens afrikanos, que escrevem diversos artigos sobre o assunto. Veja mais sobre Mar Negro Mouf Ty.

[3] http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/lei-10639-03-ensino-historia-cultura-afro-brasileira-africana.htm . Acesso em 04 de Setembro de 2014.

[4]  Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm . Acesso em 04 de setembro de 2014.

[5] Professor doutor pela USP. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4721570H5 .

[6] Pode acessar neste link. http://www.iese.ac.mz/?blogviewid=24&__target__= disponível.  Participei numa palestra em que ele falava da história afrikana em são Luis de Maranhão, em maio deste ano.

[7] Professor doutor da USP. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4783158D0 .

[8] Crônica com o título “ Desmitificando a África. Já publicado em ontologia Sensações Facebook III volume. Pelo Projeto Alma  brasileira, pela editora Vento Leste. Em 2014. E a mesma crônica ganhou o prêmio ficando em 3º lugar.

[9]Autobiografia, 1965. Malcolm X, pág. 177.  Um afro-americano que viveu em 1925- 1965. Era ativista e amante da cultura negra e afrikana.  Assassinado em fevereiro com 39 anos. Um líder inquestionavelmente forte e sempre aberto para a mudança
Escrito em Setembro de 2014. Goiânia