Sandra Martins, Por dentro da África
A memória das lutas, resistências, dores que constituem a força de um dos primeiros movimentos negros universitários do Brasil é apresentada na exposição “43 anos do GTAR: ‘ainda’ em busca de um espaço“, aberta ao público na Biblioteca Central do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (BCG/UFF).
A mostra foi inaugurada dia 3 de outubro de 2018 e segue até 16 de abril de 2019. Essa atividade integra o conjunto de ações comemorativas dos 25 anos de instalação da BCG/UFF, ocorrida em 25 de abril de 1994. Esta exposição também fortalece a campanha “21 dias de ativismo contra o racismo” – agenda de atividades pacíficas, autogestionadas, focadas na reflexão sobre as questões raciais em âmbito estadual.
A programação do seminário incluiu relatos sobre estratégias desenvolvidas para superar as duas grandes dificuldades que os jovens estudantes sentiam cotidianamente – o racismo e a opressão da ditadura –;sobre os avanços e conquistas ao longo dos anos; e, mesmo,a respeito dos tropeços e possíveis perdas.
Durante o seminário, a professora Flávia Rios, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo, destacou que a universidade “não é um espaço branco, mas foi pensado para os brancos.” Ela ressaltou, entretanto, que “há um legado, uma produção de conhecimentos de intelectuais negros, pesquisadores negros, professores negros. E, um dos efeitos de muita importância para nossa geração é se reconhecer nesse espaço também enquanto seu”. A professora alertou também sobre o quanto é relevante enfatizar que o GTAR surgira durante o regime militar.
Segundo Flavia, a presença negra, essa memória que não está tão distante, faz parte da resistência política, acadêmica e intelectual ao regime militar, mas também da construção da democracia no Brasil, na qual a instituição universitária está inclusa.
Também durante o encontro, a professora Janaína Damasceno, da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF/UERJ), fez as pessoas questionarem a representação do negro na fotografia. Sua fala remeteu a fotografias em exposição na BCG/UFF do projeto de pesquisa do grupo que subira sete morros para falar com os moradores mais velhos.
De acordo com a bibliotecária Ângela Albuquerque, a exposição pode ser considerada um marco na história da BCG/UFF por apresentar o pensamento social brasileiro a partir do negro como sujeito da própria história. Este é um dado importante que tem chamado bastante atenção de quem visita a mostra, o protagonismo do negro, em especial, quanto ao movimento ocorrido no espaço acadêmico em um momento de muitos medos e repressão.
GTAR – Grupo de Trabalho André Rebouças
O GTAR foi uma das vertentes do Movimento Negro do Rio de Janeiro que construiu um espaço de reflexões e ações em uma universidade pública em pleno período da ditadura militar, nas décadas de 1970/1980. Intelectuais como Marlene de Oliveira Cunha, Maria Maia de Oliveira Berriel e Carlos Hasenbelg são alguns dos personagens que lançaram, construíram, apoiaram e incentivaram jovens negras e negros – como Sebastião Soares, Andrelino Campos, Cláudia M. Nascimento, Luiz Claudio Barcelos, Luiz Cláudio de Oliveira e Miro Nunes, entre outros –a constituir aquele espaço/tempo quilombola.
O que se busca é relembrar um período de mais de 20 anos de atividades (1975/1995) e o espraiar do movimento por outras trilhas até os atuais 43 anos de lutas, mobilizações, histórias e narrativas que constituem parte de uma história silenciada na Universidade Federal Fluminense.
Serviço
O que? “43 anos do GTAR: ‘ainda’ em busca de um espaço”.
Quando? Até 16 de abril de 2019.
Horário? 10h às 19h
Onde? Biblioteca Central do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense,
Campus do Gragoatá– Rua Alexandre Moura, 8, São Domingos, Niterói – RJ
Agendamento de grupos: <expo43anosgtar@gmail.com>
Facebook/exposicaogtar