África avança na produção de medicamentos contra o HIV

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© UNICEF/Olivier Asselin In Côte d’Ivoire, a woman living with HIV holds three pills she takes daily as part of antiretroviral therapy.

Com informações da ONU News

A África Subsaariana deu um passo cauteloso, porém fundamental, rumo à autossuficiência em saúde. Pela primeira vez, medicamentos e testes de diagnóstico para HIV produzidos localmente começaram a ser adquiridos por programas nacionais – incluindo o tratamento fabricado no continente destinado a Moçambique.

Esse avanço representa um marco importante para uma região que carrega cerca de 65% da carga global do HIV e que, historicamente, depende de importações de medicamentos antirretrovirais e kits de testagem para manter seus programas de saúde.

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) enfraquece o sistema imunológico, tornando o organismo mais vulnerável a infecções e certos tipos de câncer. Sem tratamento adequado e oportuno, o HIV pode evoluir para a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), estágio mais avançado da infecção.

Em 2023, a farmacêutica Universal Corporation Ltd, sediada no Quênia, tornou-se a primeira fabricante africana a receber a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para produzir a combinação tenofovir disoproxil fumarato, lamivudina e dolutegravir (TLD) – tratamento antirretroviral de primeira linha.

Agora, em um avanço significativo, o Fundo Global – parceria internacional de financiamento ao combate ao HIV, tuberculose e malária – está adquirindo esse tratamento fabricado na África para Moçambique. Trata-se da primeira vez que o TLD produzido no continente é distribuído por esse canal.

“A aquisição desse tratamento pelo Fundo Global representa um grande passo para fortalecer os sistemas de abastecimento na África”, afirmou Meg Doherty, diretora dos Programas Globais de HIV da OMS. “Isso contribuirá para melhores resultados de saúde para pessoas vivendo com HIV, que precisam de fornecimento contínuo de medicamentos.”

Fortalecimento da capacidade regional

A OMS destaca que essa conquista faz parte de um esforço mais amplo para ampliar a produção local e melhorar o acesso a tecnologias de saúde essenciais no continente africano. A agência tem atuado em parceria com governos, fabricantes e organizações de saúde globais – como o próprio Fundo Global e a Unitaid – para fomentar a fabricação africana de produtos com garantia de qualidade.

“A produção local de medicamentos seguros e eficazes é uma prioridade urgente”, ressaltou Rogerio Gaspar, diretor de Regulação e Pré-qualificação da OMS. “Cada fabricante africano que atende aos padrões da OMS nos aproxima de um sistema de saúde mais autônomo, resiliente e equitativo.”

Avanços sim, mas desafios estruturais persistem

Apesar do progresso, a OMS alerta que a produção local, por si só, não é suficiente. Para garantir sustentabilidade no longo prazo, são necessárias políticas públicas que incluam compromissos de mercado, compras justas e apoio técnico contínuo.

Outro ponto crítico é o acesso a diagnósticos. Com a redução do financiamento de doadores internacionais, muitos países enfrentam desafios para manter seus programas de testagem, que são a porta de entrada para a prevenção e o tratamento.

Nesse contexto, a empresa nigeriana Codix Bio recebeu recentemente uma sublicença para fabricar testes rápidos de diagnóstico para HIV, um passo importante para a soberania diagnóstica na região.

“Ter testes rápidos produzidos localmente ajuda a reduzir custos, além de minimizar vulnerabilidades nas cadeias de abastecimento e atrasos no acesso aos diagnósticos”, afirmou a Dra. Doherty.