Natalia da Luz, Por dentro da África
(Pequeno trecho de reportagem especial publicada no Jornal do Brasil em 2010)
Há 21 anos, o tom escuro da pele ainda era sinônimo de inferioridade, submissão, isolamento na África do Sul. Consequência do apartheid, regime de segregação transformado em lei no ano de 1948 e derrubado em 1994, quando Nelson Mandela se tornou presidente. No início do século XX, os descendentes dos colonos já promulgavam leis que garantissem o poder sobre a população negra. A partir de 1948, a segregação foi sancionada. Passaram-se décadas de opressão até os sul-africanos negros ganharem a liberdade e experimentarem a democracia. Foi no dia 27 de abril de 1994, quando o país viu as primeiras eleições verdadeiramente democráticas.
Durante o apartheid, os negros representavam quase 80% dos sul-africanos, obrigados a viver em pouco mais de 10% das terras, mais secas e precárias da rica África do Sul. Os antigos lares nos bairros mais centrais foram obrigatoriamente trocados pelas townships, áreas precárias das cidades. Além disso, os negros só poderiam transitar com um passe (dompas), revogado em 1986. Os que não possuíam o documento estavam sujeitos à prisão imediata.
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Na saúde, quando precisavam de atendimento médico, brancos eram atendidos em hospitais com padrão europeu, enquanto negros sofriam com falta de recursos. Na educação, a criança negra custava ao governo um décimo da branca e, mais tarde, nas universidades, o espaço novamente era dos brancos. No transporte, ônibus para negros e brancos paravam em pontos diferentes, os trens lotados e mal-acabados eram dos negros. No entretenimento, as melhores praias, piscinas públicas, cinemas, restaurantes e bibliotecas ficavam com os brancos… Era a ditadura dos brancos sufocando os negros, proibindo até mesmo o casamento entre sul-africanos negros e brancos.
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Nos últimos 21 anos, o país vivenciou cinco eleições presidenciais, expressando a vontade dos milhões de sul-africanos. As eleições de 1994 marcaram o fim de uma viagem dolorosa e o começo de um momento cheio de esperança.