Por dentro da África
Diversas lideranças das Nações Unidas pediram nesta semana que o mundo elimine a mutilação genital feminina até o ano 2030, afirmando que a prática é “violenta” e marca as meninas para sempre, além de pôr sua saúde e suas vidas em perigo e privando-as de seus direitos. Além disso, destaca a ONU, nega às meninas a oportunidade de atingir seu pleno potencial.
Com o objetivo de esclarecer sobre a prática e de contribuir com o trabalho da Organização Safeway Womanhood, que cuida de uma comunidade de refugiados, principalmente crianças e mulheres, o Por dentro da África convida o público em geral para participar da campanha e disseminar informação sobre o tema.
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Ao adquirir o calendário com fotos e informações sobre a prática, o leitor contribuirá com o trabalho (compra de medicamentos, macas, soro e vacinas, por exemplo) da Safeway Womanhood dedicada, principalmente, à saúde reprodutiva e a educação em relação à circuncisão feminina. Todo o lucro com a venda do calendário será destinado à organização sediada em Eastleigh, na cidade de Nairóbi, no Quênia. Mais do que uma campanha de doação para apoiar o trabalho da organização é uma campanha de conscientização sobre a prática.
Sobre a circuncisão feminina
Em 1997, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) emitiram uma declaração conjunta sobre a Mutilação Genital Feminina que descreveu as implicações da prática como abusiva para a saúde pública e os direitos humanos. No Quênia, assim como em muitos países da África, há leis que proíbem a prática, mas ainda há muita dificuldade de implementação.
De acordo com a OMS, a prática afeta mais de 130 milhões de mulheres e meninas em todo o mundo. A cada ano, estima-se que mais de três milhões de meninas corram o risco de serem submetidas à prática. A maior prevalência de circuncisão feminina em todo o mundo é entre as mulheres somalis. Segundo relatórios da OMS, esse percentual é de 98%.
Conheça os tipos
O tipo I é caracterizado pela excisão do prepúcio do clitóris e possível redução do mesmo.
O tipo II é chamado de excisão e consiste na retirada total do clitóris e, algumas vezes, remoção parcial ou total dos pequenos e grandes lábios.
O tipo III é conhecido como circuncisão faraônica ou infibulação e consiste na extirpação do clitóris, dos grandes e pequenos lábios. Após esse procedimento, a vagina é costurada com agulha e linha ou com bush thorn (uma planta com um enorme espinho encontrada nas áreas rurais) deixando um espaço mínimo para a saída da urina e do fluxo menstrual.
Há ainda o tipo IV, usado para agrupar todas as outras modalidades de alteração da genitália.
Saiba mais em nosso especial aqui – “Se a cultura fere o seu corpo, por que preservá-la?”
Campanha
Esta campanha é uma iniciativa do Por dentro da África e faz parte de um trabalho de campo da jornalista Natalia da Luz em Eastleigh, no Quênia, no ano de 2013. Dezenas de entrevistas em swahili, somali e inglês foram realizadas para a pesquisa sobre circuncisão feminina para a conclusão da pós-graduação em História e Cultura Afrodescendente, na PUC Rio. Além do trabalho de conclusão de curso com especialização em antropologia, a jornalista produziu artigos, reportagens, vídeos e um documentário (em edição).