“Mãe Beata vive”, por babalawô Ivanir dos Santos

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Imagem do filme “A encruzilhada das águas”: A vida de Mãe Beata de Yemanjá

Por Babalawô Ivanir dos Santos, Por dentro da África

(Homenagem para a Mãe Beata de Yemanjá, yalorixá que morreu aos 86 anos, neste sábado, dia 27 de maio. Nascida no Recôncavo Baiano, Mãe Beata chegou ao Rio de Janeiro em 1969. Sua história de militância social fez dela uma das figuras mais importantes no combate à intolerância religiosa no Brasil.

Mãe Beata de Yemanjá este era o seu nome. Negra, mulher baiana, que sobre sopro do criador trouxe em seus olhos a força de seus ancestrais e de suas tradições e compreensões sobre a importância das culturas de matrizes africanas. Destemida, soube com maestria lutar contra todas as formas de preconceitos em prol de uma alteridade, que pudesse abarcar com equidade as culturas e religiosidades de matrizes africanas no Brasil.

Grande negra mulher, iniciada pela Mãe Olga de Alaketu no terreiro Ilê Maroiá Láji , soube bailar com os pés firme no chão. Chão que fundou e deu vida a Comunidade de Terreiro Ilê Omi Ojú Arô (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi).

Grande negra mulher que se transformou em um dos maiores símbolos de resistência das culturas negras do país e na luta contra a intolerância religiosa, racismo e todas as formas correlatas de discriminações e em defesa dos direitos humanos seja por palavras escritas ou faladas, sua voz ecoava (e ainda ecoa) nas forças dos rastros do vento, no forte som do trovão, no bater das asas dos pássaros, no doce som das águas da cachoeira, nos fortes encontros das águas do mar.

Foto: Ccir - Liberdade Religiosa
Ivanir dos Santos cumprimentando Mãe Beata – Foto de Ccir

Mar que lhe gerou no Ayié, que lhe constituiu em sabedoria e beleza para nos ensinar a nunca desistir de nossas histórias, nossas culturas e nossas religiosidades que, em essência, se reconstitui em Áfricas. Mas, a nossa negra guerreira, partiu para o Orum e agora está a aninhar nos braços do criador.

Quis ELE que nossa Yá voltasse para o útero sagrado da terra e, passasse a ocupar um outro lugar entre nós, um lugar em que pudesse nos guiar e fortalecer diante de nossas lutas e resistências cotidianas tal como os ancestres que a conduziu em sua linda e humilde jornada terrena.

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Por isso, gostaria que lembrássemos da nossa Mãe Beata como uma mulher alegre, corajosa, que adorava contar estórias dos tempos de sua avó e, que continua a viver entre nós. Mãe Beata vive!!!!!

Babalawô Ivanir dos Santos é professor doutorando em História Comparada da UFRJ

Mãe beata: “o Candomblé é o meu empoderamento, é minha força, é a minha vida, é a fonte que eu bebo minha água em qualquer momento, é luz dos meus olhos, é o som que eu ouço, é o cantar dos pássaros, é a minha cultura, é a minha vida”