Fórum Social Mundial: África, migrações e suas diásporas

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Banner do Fórum Social Mundial - Divulgação
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Bas’Ilele Malomalo, docente da UNILAB e membro do IDDAB

Nos dias 16 e 17 de março, Lauro de Freitas, na Bahia, tornou-se um território internacional com atividades associadas ao Fórum Social Mundial (FSM). O encontro reuniu cientistas sociais, ativistas, teólogos, lideranças religiosas, artistas e estudiosos locais e internacionais das religiosidades africanas e afro-diaspóricas para refletir coletivamente sobre os problemas urgentes do século XXI.

A Década internacional de Afrodescendentes e o Fórum Social Mundial de 2018 (que aconteceu entre os dias 13 e 17 de março em Salvador), com o lema: Resistir é criar; resistir é transformar, serviram como plataformas motivadoras para a realização de diálogos entre todos os participantes. As atividades foram organizadas pelas entidades da sociedade civil e dos poderes públicos federal e municipal.

Mesa de diálogos: Teologias e espiritualidades afro-ancestral e cristã: resistir e transformar, Câmara Municial de Vereadores (Foto: Bas’Ilele
Mesa de diálogos: Teologias e espiritualidades afro-ancestral e cristã: resistir e transformar, Câmara Municial de Vereadores (Foto: Bas’Ilele)

O “Seminário Internacional África, Migrações, suas Diásporas, Espiritualidade e Década Internacional de Afrodescendentes: Juventude, Segurança, Justiça, Reconhecimento e Ubuntu-Bien viver” foi pensado, inicialmente, para ser realizado no quilombo de Quingoma, mas, por motivos de logística e infraestrutura, ocorreu na escola Municipal Dois de Julho e na Câmara Municipal dos Vereadores. Essa opção possibilitou que o público do evento fosse mais diversificado e que o Quingoma fosse visto como um possível território futuro merecedor das atividades voltadas para as africanidades.

O FSM de Lauro de Freitas abriu e encerrou com as atividades culturais dos artistas locais e internacionais, estudantes da UNILAB, oriundos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Tratou-se de uma concepção pedagógica da cultura e arte como peças fundamentais para emancipação de pessoas e sociedades.

Apresentação da dança afro-brasileira Coco, as Bejunzeiras de Areia Branca, estacionamento da Câmara Municipal de Vereadores (Foto: Bas’Ilele)
Apresentação da dança afro-brasileira Coco, as Bejunzeiras de Areia Branca, estacionamento da Câmara Municipal de Vereadores (Foto: Bas’Ilele)
Apresentação Embaixad’África/UNILAB, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele)
Apresentação Embaixad’África/UNILAB, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele)

O grupo Ogãs, ao abrir o evento com os tambores, conectou o encontro com a seiva da filosofia africana ancestral que lhe dá vida. Os toques de tambores ligaram africanos do continente e da diáspora, especialmente lauro freitenses, com seus ancestrais que sempre lutaram pela liberdade.

No dia 16, os participantes escolheram uma das três mesas temáticas que foram concebidas para a realização de trocas de conhecimentos e vivencias:

*Mesa de diálogos 1: África, Migrações e suas Diásporas: Segurança, Direito e Justiça;
*Mesa de diálogos 2: África e América Latina, Migrações e suas Diásporas: Economia, desenvolvimento e Ubuntu-Buen Viver;
*Mesa de diálogos 3: África, Migrações e suas Diásporas: Geopolítica, cooperação e Educação antirracista;
*A Mesa de diálogos 4 reuniu jovens, estudantes da UNILAB do Ceará e da Bahia para falar de seus problemas e encontrar soluções. Apontaram a necessidade de se realizar o primeiro internacional de estudantes negros da Unilab.

Grupo Samba de Roda do Quilombo de Quingoma, Câmara Municipal de Vereadores (Foto: Bas’Ilele)
Grupo Samba de Roda do Quilombo de Quingoma, Câmara Municipal de Vereadores (Foto: Bas’Ilele)

No dia 17, o tema central das discussões foi a “Espiritualidade Africana e Afro-Diaspórica na construção de uma Agenda Pan-africanista em torno da Década Internacional de Afrodescendentes”. Foi dividido em dois momentos:

*Mesa de diálogos 1: Teologias e espiritualidades afro-ancestral e Tema: Espiritualidade Africana e Afro-Diaspórica na construção de uma Agenda Pan-africanista em torno da Década Internacional de Afrodescendentes;
*Mesa de diálogos 2: Filosofia, espiritualidade e estéticas africanas: resistir e transformar. Entre outras questões levantadas, cabe mencionar a importância de tambores, religiões de matrizes africanas, capoeira, samba de roda, coco, como elementos indispensáveis na construção de identidades negras afirmativas.

Autoridades Municipais, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele
Autoridades Municipais, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele)

Reconhecendo-se a diversidade que marca as identidades negras, apelou-se à construção de teologias cristãs negras que valorizem o patrimônio cultural africano, que denunciem e combatam o racismo religioso e cultural. Defendeu-se igualmente a efetivação de uma educação que dialoga com a Lei 10.639.

O que aconteceu em Lauro de Freitas, durante esses dois dias, traz muitas lições para sociedade: quando o poder público trabalha conjuntamente com as universidades e as organizações da sociedade civil, tendo mesmos objetivos, existe a possibilidade de estabelecer uma revolução de dentro: a revolução espiritual, social, econômica contra o racismo, a insegurança, o machismo que afetam de forma negativa a vida de milhões de negros no Brasil e no mundo.

Mesa de diálogos: África, Migrações e suas Diásporas: Geopolítica, cooperação e Educação antirracista, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele)
Mesa de diálogos: África, Migrações e suas Diásporas: Geopolítica, cooperação e Educação antirracista, Escola Dois de Julho (Foto: Bas’Ilele)