Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África
O livro “Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade” é um ensaio que relata as experiências da Bell Hooks como professora nos Estados Unidos, e o sistema educacional num sentido globalizado da tradição da educação do Ocidente. A pedagogia crítica e a educação de liberdade são as bases desse ensaio que demonstra a importância da educação como prática social humanista. A realidade educacional no mundo ocidental, por vezes, desinforma. A falta do compromisso, a repressão que a educação impõe é visível, mas, nem sempre, os alunos ou estudantes conseguem reconhecer a repressão. Uma boa parte dos sistemas educacionais são excludentes, principalmente no país como Brasil, que herda os padrões europeu e norte-americano que menosprezam os negros. [… A sala de aula não é lugar de para as estrelas, é um lugar de aprendizado…] HOOKS, pág. 216.
Na obra, Hooks investigou a sala de aula como fonte de constrangimento, mas também uma fonte potencial de libertação. Ela argumentou que os professores que têm usado o controle e o poder sobre os alunos, sentem-se oprimidos e precisam de entusiasmo. “É preciso distinguir e dar crédito às especificidades de cada aluno e ao seu papel para a abordagem de linha de montagem para a aprendizagem”. Ela defendeu que as universidades incentivam alunos e professores a transgredir, e procurou maneiras de usar a colaboração para tornar o aprendizado mais relaxante e emocionante. Ela descreve o ensino como “um catalisador que convida todos a se tornarem mais engajados”.
O livro tem 14 capítulos, e cada um deles têm os seus verdadeiros contextos, mas sem fugir do tema. Em todos esses capítulos, ela questiona as pedagogias e propõe a pedagogia engajada e comunitária dando ênfase à pedagogia feminista como sendo uma alternativa. Ela tem vários pontos com digna importância para todos os professores brancos ou negros. Nos apontamentos que ela diz:
[… Os professores universitários podem distribuir o material quanto o quiserem, mas se as pessoas ou estudantes não estiverem dispostos, sairão vazios daquela informação, por mais que agente sinta que realmente cumpriu o dever… é preciso saber o estado de humor, da classe, a estação do ano, o clima da sala e perguntar sempre se está bem, ou está acontecendo algo. ] HOOKS, 2013. pag.211.
Essa é uma realidade em muitos países, inclusive, no Brasil. Não basta cumprir os programas se os alunos não acompanharem, não entenderem. E as universidades têm de repensar os métodos avaliativos, citando: “ a nota é algo que os alunos podem controlar por meio do seu trabalho em sala de aula” HOOKS, pág. 210. Vamos navegar nas universidades, e perguntar como pensam e como vêem a educação. “ as universidades têm de começar a reconhecer que a educação de um aluno não se resume ao tempo passado na sala de aula” Hooks. 2013.p, 219.
Alguns professores não ouvem as experiências dos seus alunos, principalmente quando se trata de questões étnicas ou apenas da negra. Muitas vezes, as crianças negras não têm apoio dos seus professores e isso faz com que muitos alunos negros desistam de estudar, e os que aguentam continuam com a auto-estima baixa. Ela ensina que é preciso auto-atualização dos próprios professores. “ As vozes dos alunos nem sempre são ouvidas” para isso, a consciência crítica ajuda bastante. A educação libertária quando todos tomam a posse do conhecimento como se fosse este uma plantação em que todos temos de trabalhar”, pág. 26.
Bell constata, como professora de carreira, que o que muitos professores têm feito é apenas estafar os alunos, enchendo com os estigmas e conservando o machismo, o sexismo e o racismo dentro das escolas. A forma como as mulheres são tratadas é questionável, não apenas no contexto educacional, mas no geral. Porque os homens pensam que detêm todo o poder (visão machista) é condenável pela Bell Hooks.
Por que esses professores não querem abrir as mentes para a mudança? Por que muitos acreditam que a academia é apenas um lugar por onde os professores passam e no final do mês, o salário entra na conta?A academia é muito mais que isso. E citando:
[… A academia não é o paraíso, mas o aprendizado, é um lugar onde o paraíso pode ser criado. A sala de aula com todas suas limitações continua sendo ambiente de possibilidades. Nesse campo de possibilidades, temos a oportunidade de trabalhar pela liberdade, exigir de nós e de nossos camaradas uma abertura da mente e do coração que nos permite encarar a realidade ao mesmo tempo em que, coletivamente, imaginemos esquemas para cruzar fronteiras, para transgredir. Isso é a educação como prática da liberdade…] HOOKS, 2013.pág. 273.
Por que muitos alunos não conseguem falar, por que os alunos negros nos colégios não são vistos, por que as mulheres sempre estão nas últimas carteiras? Muitos professores brancos e negros não conseguem tratar ou, pelo menos, conversar com os alunos. Não se pode excluir os alunos pela sua condição social ou étnica. A escola não é lugar de opressão, e todos os alunos deveriam ter garantido o direito à voz, o que nunca acontece. Porém, nos séculos XX e XXI, muita coisa está sendo recriada e o aparecimento de movimento feminista é uma característica que tem ajudado o combate à opressão. O movimento feminista das afro-americanas e as afrodescendentes tem o marco importante para o sistema educacional porque elas sempre lutam contra o racismo, o preconceito e outras desigualdades nos países. Por isso que Bell procura incutir a pedagogia libertadora e transgressora da nossa sociedade.
Alguns pontos precisam de profundas análises como o comodismo, a falta de compromisso e a conservação dos métodos pedagógicos arcaicos, que devem ser combatidos. Com isso, reafirmo que o ensino transgressor é uma receita para as sociedades preconceituosas como a brasileira. Ensinando a transgredir é um livro abrangente, e verifica como os negros são vistos. Sabemos que o Ocidente tem padronizado tudo, sobre os estigmas velados pelo véu do racismo, sexismo, sobre a imagem dos homens negros, apenas adquirindo a liberdade de ter contato com brancas, visão estereotipada que deveria ser uma luta pública pela igualdade racial e a política privada. pag 127.
Como está supracitada a questão da pele, ou seja, a luta branco x negro, pois o status de branco ganhava os poderes mesmo sendo pobre. Os brancos viam ( vêem) as negras como objetos de sujeição e abuso. (Hooks, p. 131). Isso, sem dúvida no Brasil é bem representado. As negras só servem para “ ficar” como se tem dito coloquialmente. Tenho pensado bastante nisso e não consigo entender o porquê de não respeitarem as mulheres negras. Se toda a mulher merece o respeito, as mulheres negras precisam e devem ser respeitadas. Outra coisa que faz falta para o respeito das negras é porque os brancos aproveitam a história escrita por homens e mulheres brancas, que só personifica os heróis brancos. Há necessidades urgentes para quebrar essas tradições conservadoras nas escolas do Ocidente.
Para transgredir, é preciso conhecer as muitas mulheres negras que têm trabalhos brilhantes, como Bell Hooks. A literatura afro-americana desconstruiu várias visões que, até então, não se discutia, e nem se falava. Afirmo outra vez que a educação excludente não pode prevalecer na cultura acadêmica. Como bem fala Bell Hooks;
“Crítica literária é o ambiente que melhor tem permitido as mulheres negras afirmar a voz feminista. Boa parte da escrita desmascaram formas de exploração da opressão sexual da vida dos negros, e recebeu atenção e ariscos falar criticamente sobre ela…” (Hooks, 2013, 169).
As negras feministas trabalham para a cultura acadêmica seja mais aberta e abrangente, e as guerras entre a tradição conservadora e a transgressão, possa ter reconhecimento e o mérito dessas pensadoras. E sobre a cultura padronizado e machista dizia ela;
“ O patriarcado escrevera que Bell crescera nesta cultura do uso da coerção punição violenta e assédio verbal. Os homens negros tinham mais poder e autoridade que as mulheres negras! Mas, na faculdade, os homens teriam sido castrados, pelo trauma da escravidão, e impedidos do direito de privilégios e poderes masculinos.” Hooks, 2013, 161.
Insisto em dizer que não adianta menosprezar o feminismo porque os estudos dessas mulheres demonstravam o crescimento dos alunos negros e sua presença em universidades nos Estados Unidos. É preciso dar créditos para as feministas negras como Celestine Ware, Toni Cade, Bambara, Michele Wallace e Angela Davis. Temos que reconhecer que a educação precisa de diversos métodos e estilos para o ensino, e os estímulos para aprendizagem partindo de exemplos.
A educação promove mudanças de mentalidade e essas mudanças mexem na estrutura política. Os políticos não querem cidadãos que pensam, que critiquem. A última questão no livro é sobre a língua, um instrumento de poder e opressão. A obra de Bell Hooks destaca a língua padronizada pela elite e a influência da língua dos alunos que vêm da periferia com linguagens que os professores precisam entender.
Porém, esse livro me fez refletir sobre como os sistemas educacionais têm levado os casos de conservação da cultura de um modo geral. A pedagogia critica, a educação de liberdade e o pensamento critico são bases desse ensaio. Métodos que ensinam os estudantes a transgredir preconceito, machismo, racismo, sexismo (em particular, contra as mulheres negras que, muitas vezes, são obrigados a alisar os cabelos). Ele demonstra a importância da educação como prática social humanista, que precisa do empenho e de muito trabalho por parte dos educadores. A mudança dos profissionais é importante. “Estudar é um dever revolucionário”, lema proposto pelo primeiro presidente angolano, Antônio Agostinho Neto. Temos que abraçar a mudança, e fazendo-a podemos viver num mundo onde a liberdade seja para todos.
Referência
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a Educação como prática de liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla- São Paulo. 2013. Editora Martins Fontes, 2013.
Retirados no http://en.wikipedia.org/wiki/Bell_hooks . Acesso em 20 de junho de 2014.
[1] Licenciado em Letras, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. é poeta, cronista e contista, pesquisador voluntário da PUC na área de literatura Angolana e Moçambicana,( Mia Couto e Pepetela). Membro do programa e de estudo e extensão afro-brasileiros (PROAFRO PUC GOIÁS. com pseudônimo literário Mavenda Nuni ya África.
[2] Fonte no blog http://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell-hooks-uma-grande-mulher-em-letras-minusculas/ , acesso em 10 de junho 2014.
[3] Retirados no http://en.wikipedia.org/wiki/Bell_hooks . acesso em 10 de junho de 2014.