Natalia da Luz, Por dentro da África
Pela defesa da liberdade religiosa, milhares de pessoas caminharam pela Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, no último domingo (15). Organizada pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), a mobilização reuniu praticantes de diferentes religiões e crenças.
Assista ao vídeo abaixo:
Bispo da Catedral Budista Nikkyoji, Nitigun Takassaky disse que é importante apoiar o ato porque diz respeito à liberdade religiosa e que, após conquistas democráticas, o Brasil passa por um período de ameaça aos direitos humanos.
“O budismo acredita que, desde que o mundo existe, a liberdade existe. O homem foi se aperfeiçoando, adquirindo conhecimento, mas esse saber, em vez de ser usado de forma poética, passou a ser usado para subjulgar outras pessoas. Não podemos continuar assim, temos que seguir evoluindo”, disse o religioso ao Por dentro da África.
Um dos responsáveis por concretizar esse encontro há 12 anos, o babalawo Ivanir dos Santos lembra que a primeira caminhada (em 2008) foi motivada pela expulsão de praticantes de religiões de matrizes africanas da Ilha do Governador, na cidade do Rio. Na ocasião, os religiosos foram reprimidos por traficantes de drogas da região.
Atualmente, em 2019, Ivanir considera o cenário ainda mais assustador porque além da expulsão há depredação, destruição e ameaças por parte de grupos de traficantes. Em Campos dos Goytacazes, Norte do estado do Rio, duas lideranças religiosas foram assassinadas no ano passado.
Segundo a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, há 200 terreiros que estão sob ameaça no estado do Rio de Janeiro. A entidade registrou um aumento de 120% de ataques em comparação com o ano passado.
Comunidades da Baixada Fluminense estão entre as mais vulneráveis. O terreiro Ilê Axé de Bate Folha, em Duque de Caxias, por exemplo, foi invadido por traficantes no mês passado. No ataque, o grupo quebrou imagens e oferendas e ameaçou a ialorixá. A casa foi fechada e as atividades encerradas após a ação dos criminosos.
“Atualmente, no momento em que você tem uma ameaça ao Estado laico, à democracia, às liberdades e aos direitos humanos, é fundamental que a sociedade demarque a sua posição pela preservação da liberdade. Essa caminhada é por isso. Não se trata apenas das religiões de matrizes africanas serem perseguidas em várias esferas (como na escola e no trabalho), mas também de uma ameaça por parte dos traficantes que se dizem evangélicos”, detalhou o doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Autor do livro ‘Marchar não é caminhar’, que analisa as interfaces políticas e sociais das religiões de matrizes africanas no Rio contra os processos de intolerância religiosa e o racismo no Brasil, Ivanir afirma que os praticantes das religiões de matrizes africanas são aqueles que mais sentem a perseguição e que por isso reagem organizando manifestações, denúncias e mobilizações.
“Estamos aqui na caminhada em grande quantidade, mas isso não quer dizer que os ciganos, judeus e muçulmanos, por exemplo, não sofram com a intolerância. Muitos religiosos são discriminados. Tudo aquilo que não tem uma relação direta com a cultura ocidental é discriminado pela sociedade brasileira e nós estamos aqui para defender a liberdade”, completou.