Por dentro da África
Rio – Desde a criação do Prêmio Nobel (Noruega, em 1901), alguns africanos já receberam o título oferecido aos que trabalham pela democracia e pelos direitos humanos. Atualizado em outubro de 2019.
Quatro deles são da África do Sul e passaram muitos anos de suas vidas lutando contra o apartheid, regime de segregação que dividiu o país de 1948 a 1994. Na luta pelos direitos humanos, três mulheres (duas liberianas e uma queniana) também foram contempladas.
O primeiro africano a ganhar o Prêmio Nobel da Paz foi Albert Lutuli (1898-1967). Inspirado em Mahatma Gandhi, tornou-se o porta-voz da campanha de desobediência civil contra a política de segregação de seu país. Lutuli nasceu na Rodésia do Sul, atual Zimbábue, mas adquiriu a nacionalidade sul-africana. Por sugerir um dia nacional de lamentação pelo Massacre de Sharpeville (março de 1960) e haver queimado publicamente o passe obrigatório (que os negros usavam), num gesto simbólico de desobediência civil às leis segregacionistas, Lutuli foi condenado, em 1960, a seis meses de prisão. Mesmo sofrendo pena de restrição, foi autorizado a sair do país para que, em dezembro de 1961, fosse até Oslo receber o Prêmio Nobel da Paz.
Falecido em 1981, Muhammad Anwar Al Sadat foi um militar e político egípcio, presidente do país de 1970 a 1981. Foi prisioneiro dos britânicos por ser agente alemão em 1942, e novamente, em (1946), por atos terroristas. (Lembrado pelo leitor Alessandro Mathera). Participou do golpe de 1952, que derrubou o rei Farouk e que levou Nasser ao poder. Sucedeu a Nasser como presidente do Egito (1970-1981). Em 1972, dispensou a missão soviética em seu país e, em 1974, após perder militarmente a guerra de Iom Kippur (1973), recuperou, no acordo de separação de forças, o canal de Suez das mãos de Israel. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1978 junto com Menachem Begin, nascido na Bielorússia.
Em 1984, foi a vez do sul-africano Desmond Tutu, o primeiro negro a ocupar o cargo de Arcebispo da Cidade do Cabo. Após ser nomeado bispo, dirigiu a diocese de Lesoto (país vizinho) de 1976 a 1978, ano em que se tornou secretário-geral do Conselho das Igrejas da África do Sul. Sua proposta para a sociedade sul-africana incluía direitos civis iguais para todos; abolição das leis que limitavam a circulação dos negros; um sistema educacional comum e o fim das deportações forçadas de negros. Sua firme posição anti-apartheid – a política oficial de segregação racial – lhe garantiu, em 1984, o Nobel da Paz.
Em 1993, dois sul-africanos dividiram o Nobel da Paz. Nelson Mandela foi o presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado o mais importante líder da África Negra. Até 2009, ele havia dedicado 67 anos de sua vida a serviço da humanidade. Foi o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista do apartheid.
Frederik Willem de Klerk foi o último branco a ser presidente da África do Sul. De Klerk é conhecido por fazer a transição do apartheid para a era democrática, permitindo à maioria negra direitos civis iguais aos brancos. Em 1994, Nelson Mandela se tornou o presidente do país e, de Klerk, o vice. Três anos depois, De Klerk abandonou a vida política.
Kofi Atta Annan (1938-2018) foi um diplomata de Gana. Entre 1 de janeiro de 1997 e 1 de janeiro de 2007, atuou como o sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas. Annan e as Nações Unidas foram co-receptores do Prêmio Nobel da Paz de 2001 pela criação do Fundo Global de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária para ajudar países em desenvolvimento em seus esforços para cuidar de seu povo. (Lembrado pelo leitor Alessandro Mathera).
Em 2004, Wangari Maathai (01/04/1940 – 25/09/2011) foi a primeira africana a ganhar um Nobel da Paz. Ela nasceu no distrito de Nyeri, na Província Central do Quênia, e ficou conhecida pela sua luta de conservação das florestas e do meio ambiente. Ainda na década de 1970, fundou o movimento do Cinturão Verde Pan-africano (Pan-African Green Belt Network), no Quênia, uma iniciativa que plantou 30 milhões de árvores.
Ela serviu como uma inspiração para muitos na luta por direitos democráticos. Cinco anos após receber o Nobel, Wangari Maathai se tornou Mensageira da Paz das Nações Unidas, a convite do secretário-geral, Ban Ki-moon.
Mohamed ElBaradei é um diplomata egípcio, antigo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). ElBaradei licenciou-se em direito pela Universidade do Cairo em 1962 e doutorou-se em Direito Internacional pela Universidade de Nova Iorque em 1974. Iniciou a sua carreira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto em 1964, tendo exercido funções na missão permanente do Egipto na ONU em Nova Iorque e em Genebra. Entre 1981 e 1987 foi professor, Foi premiado com o Nobel da Paz de 2005, juntamente com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). (Lembrado pelo leitor Alessandro Mathera).
Em 2011, três mulheres dividiram o Nobel da Paz. Tawakkol Karman (Iêmen) e as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee. Ellen Johnson Sirleaf foi a vencedora das eleições presidenciais de 8 de novembro de 2005 e reeleita em 2011. Líder do Partido da Unidade (Unity Party), foi a primeira mulher chefe de estado de um país africano (Carmen Pereira foi a primeira mulher a presidir um pais africano, com um mandato interino na Guiné-Bissau, de 14 a 16 de maio de 1984). Ellen defende que todas as mulheres maltratadas lutem pela liberdade.
Leymah Gbowee é uma ativista africana que foi encarregada de organizar o movimento de paz que colocou fim à Segunda Guerra Civil da Libéria, em 2003. Gbowee nasceu na zona central da Libéria e, aos 17 anos, se mudou para Monróvia, a capital, quando a Segunda Guerra Civil explodiu. Formou-se terapeuta durante a guerra civil e trabalhou com crianças que foram meninos-soldados do exército de Charles Taylor, o ex-presidente. Rodeada pelas imagens da guerra, Gbowee se deu conta de que “se qualquer mudança tivesse que acontecer na sociedade, isso teria que ser feito pelas mães”.
O Prêmio Nobel da Paz de 2018 foi dado a Denis Mukwege, ginecologista que ajuda as vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo (RDC) e Nadia Murad, ativista iraquiana dos direitos dos yazidis. No leste da República Democrática do Congo, um ginecologista congolês luta pela sobrevivência de mulheres vítimas de violência sexual. No total, em 15 anos, cerca de 40 mil mulheres já foram operadas e tratadas pela equipe de Denis Mukwege. Em Bukavu, o estupro é uma arma de guerra que destrói família, comunidade, dignidade. Denis Mukwege atende mulheres violentadas que tiveram que passar por reconstituição do sistema reprodutor para que pudessem sobreviver. Por conta do seu trabalho, ele se tornou o maior especialista em danos provocados por violações, chegando a trabalhar mais de 18 horas por dia fazendo mais de 10 cirurgias.
Em 2019, o continente africano recebeu mais um Prêmio Nobel da Paz. O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, de 43 anos, foi anunciado como o vencedor. No posto há quase dois anos, Abiy foi responsável por realizações e avanços como a assinatura do acordo de paz com a Eritreia após duas décadas de conflitos e animosidades e pela libertação de milhares de presos políticos.