África em Verso: ‘O prazer de ser semente’, por Ed Mulato

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Foto de Joana Choumali
Foto de Joana Choumali

Ed Mulato

(em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha)

O vestido que encurta,

Mas encurta só na frente;

Sua mente quase surta:

É que tem gente por dentro do ventre.

Alegrias, só sorrisos,

Vem tristezas, de repente;

Este choro sem aviso:

Tem gente por dentro do ventre.

Mundo sujo, com coragem,

Quem tem fé que o enfrente;

Siga firme na viagem:

Com gente por dentro do ventre.

Que danada dor é esta?

Eita dor que é diferente.

É calor que quando dói.

Esgarça, rompe, quase rói,

Quando rasga no seu ventre.

O olhar é sempre altivo,

Que euforia, de repente:

Um sorriso, um choro vivo,

Que prazer de ser semente!

Tetas fartas, novo leite,

Jorra largo, sempre quente.

O prazer de ser de novo,

O mesmo ser, bem diferente.

É trazer p´r´um mundo novo,

O calor de nova gente.

Tatuagem renascida,

Nova vida, ser contente;

Esperando a nova dor,

A grata dor de ser semente:

O prazer de dar amor,

Fazedor de nova gente.

Mulher negra, a africana,

Em meu eterno continente,

Ao parir a humanidade,

Por descuido ou insanidade…

Seu prazer foi ser semente.