Ciência: Jovens de Uganda criam dispositivo para diagnosticar malária

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Moris, Brian e Shafik - Divulgação
Moris, Brian e Shafik – Divulgação

Natalia da Luz, Por dentro da África

Um dos desafios para a saúde pública na África Subsaariana é combater a malária. A região concentra cerca de 90% dos casos da doença no mundo. Para reforçar essa luta, um grupo de jovens de Uganda desenvolveu uma ferramenta capaz de diagnosticar a doença de forma rápida e eficaz, reduzindo assim os riscos de morte.

“A falta de diagnósticos de baixo custo para a malária dificulta o tratamento em comunidades de baixa renda (contribuindo para a alta mortalidade). A malária obrigou quase todos nós a perder aulas e palestras na universidade, por isso pensamos em desenvolver um dispositivo reutilizável e de baixo custo”, disse em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, Moris Atwine, parte do grupo (de 24 a 29 anos) da Universidade de Makerere, em Kampala.

A equipe que estuda ciências da computação e engenharia desenvolveu o Matibabu, que significa “centro médico” em swahili, uma das principais línguas do país. O objetivo do dispositivo é fazer o teste sem tirar sangue. Durante a análise, o paciente coloca o dedo na máquina e, em um minuto, o resultado está disponível, podendo ser visto no telefone, quando acoplado ao celular.

Simulação - Divulgação
Simulação – Divulgação

“Ao colocar o dedo, um raio vermelho de luz brilha na pele do usuário e já detecta mudanças na forma, cor e concentração dos glóbulos vermelhos. A cor identifica se o paciente está ou não com malária. Quando a pessoa tem malária, há ‘parasitas’ no sangue que respiram, se alimentam e produzem resíduos. O ímã no dispositivo ‘se conecta’ ao ímã no sangue do paciente e envia os resultados de volta para um smartphone”, detalhou o estudante de ciências da computação que também trabalha em uma empresa que desenvolve softwares.

Simulação - Divulgação
Simulação – Divulgação

A equipe formada por Moris Atwine, Joshua Businge, Josiah Kavuma, Brian Gitta, Shafik Sekitto, Lubambo Simon começou a fazer o projeto em 2013 e o finalizou 4 anos e meio depois. Agora, eles estão testando em hospitais (principalmente no hospital nacional Mulago).

O Matibabu (que está em sua quinta geração) é uma iniciativa que faz parte do grupo de terapias de baixo custo, que são cada vez mais ineficazes. Em muitas partes da África, 70% dos casos de malária são resistentes a antimaláricos tais como cloroquina, além do custo ser absolutamente incompatível com grande parte da população afetada.

Brian recebendo o prêmio no Quênia - Divulgação
Brian recebendo o prêmio no Quênia – Divulgação

Com 24 anos, Brian Gitta representou o grupo no Prêmio Africano para Inovação na Engenharia, da Academia Real de Engenharia. Em 13 de junho, durante cerimônia em Nairóbi, Quênia, ele recebeu a homenagem e a quantia de 33 mil dólares como recompensa pelo projeto. O dinheiro será usado para gerenciar a produção e os testes futuros.

Alta incidência e mortalidade

A transmissão da malária ocorre após picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por protozoários Plasmodium. Os sintomas (que aparecem cerca de 10 dias depois da picada) são febre, fadiga, vômitos e dores de cabeça, por exemplo. Em casos graves pode causar icterícia, convulsões, coma ou morte. Algumas das formas de prevenção são: uso de  comprimidos, repelentes e, principalmente, do mosquiteiro com inseticidas.

Mosquiteiro, uma das formas de prevenção - Foto de UNICEF
Mosquiteiro, uma das formas de prevenção – Foto de UNICEF

Matibabu é uma iniciativa louvável e urgente, principalmente quando observamos as estatísticas sobre a malária no continente africano. Em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde, houve aproximadamente 216 milhões de casos de malária e uma estimativa de 445 mil mortes por malária. 90% desses casos estão na África Subsaariana. No ano passado, 15 países concentraram 80% das mortes globais por malária. Todos eles estão na África Subsaariana, com exceção da Índia.

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O diagnóstico precoce é importante para iniciar o tratamento, garantindo a eliminação rápida e completa do parasita plasmodium falciparum, a fim de prevenir a progressão da malária para uma infecção crônica. O tratamento também ajuda a reduzir a transmissão da infecção para outras pessoas e impedir a resistência aos medicamentos antimaláricos.

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Futuro para o aplicativo

Matibabu ainda não foi formalmente submetido a todos os testes clínicos necessários sob os regulamentos de segurança e ética de Uganda, mas está no caminho. O custo unitário do protótipo mais recente é de cerca de 100 dólares, mas o grupo precisa de mais para dar continuidade ao estudo.

“Com base em nossa pesquisa com clientes (que neste caso são hospitais) teríamos um custo de 100 dólares por equipamento, mas precisamos de cerca de 600 mil para poder gerenciar as próximas fases de testes clínicos. É um investimento que, certamente, salvará muitas vidas”.