Ed Mulato, Por dentro da África
Luto contra a luta
de fazer, do luto, luta
todo dia, todo dia…
Luto contra o cheiro de carniça
que invade, inteiro, a missa,
mesmo estando o corpo ausente
Este cheiro, a gente sente…
… completamente…
Todo dia a gente morre;
todo dia se revive;
todo dia o sangue escorre…
todo dia…
todo dia…
to do dia…
Um tiro, um grito
Lá no chão, um corpo quente…
… e povo passa, indiferente…
perversa
mente
… essa a desgraça,
que a gente sempre sente
Profuun damente…
Todo dia a mesma luta.
Como é dura essa labuta!
Que é bruta,
e é diária,
é incerta,
inserta e vária,
deserta, pária,
porque perdida de saída:
é o fim da vida ainda em vida
Que culpa tenho de meu gene diferente?
Que culpa tenho se, também, me sinto gente?
Meu sangue corre como o seu: vermelho e quente…
Meu Deus, cadê a sua paz?
Onde estão meus orixás?
Será meu corpo entregue à terra?
Será incerta e infinda a mesma guerra?
Nem assim meu grito cala.
Minha voz, se muda, fala:
alguém irá levar meu luto à frente;
minha luta estará sempre presente
Eternamente…
A minh’alma assim o sente.
Minha luta? É ir em frente….
Com-pul-so-ria-mente…
… a paz ausente…
perenemente…
Este é o luto
que a gente sempre sente…
É sempre assim:
é quase o fim…
Tão simplesmente.
Ed Mulato