Lisboa: Mostra de documentários debate militância LGBT na África

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And Still We Rise – Divulgação

Alexandre Costa Nascimento, Por dentro da África

Lisboa – A mostra Activisms in Docs, realizada na última quinta-feira (15), em Lisboa, exibiu os vídeo-documentários “And Still We Rise” e “Umunthu”, que tratam da resistência e do ativismo da população LGBT em Uganda e no Malawi, respectivamente.

A exibição dos dois filmes foi seguida de um bate-papo do público presente com dois pesquisadores da área de Estudos Africanos. A temática LGBT é sensível no continente, onde muitos países criminalizam a homossexualidade e o discurso homofóbico. Além de ser usado como arma política, o tema também vem ganhando impulso através da pregação em templos religiosos.

Activisms in Docs – Divulgação

“O crescimento das igrejas neopentecostais é um fator crucial para se entender a questão LGBT não apenas em Uganda, mas também em outros países africanos em que a criminalização da homossxualidade existe”, explica em entrevista ao Por dentro da África, Mojana Vargas, mestre em Relações Internacionais e doutoranda em Estudos Africanos.

Segundo a pesquisadora, a forma como a questão LGBT é tratada na África é consequência direta do não reconhecimento da sexualidade como parte da identidade do indivíduo.

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“A sexualidade é tratada no senso comum – e os governos na produção da legislação se utilizam disso – como um comportamento. Então o comportamento pode ser considerado natural ou não. Assim, enquanto naturaliza-se a heterossexualidade, a homossexualidade é vista então como algo não-natural, imoral e contrário às crenças religiosas e como algo influenciado pelo pensamento externo”, avalia.

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Mojana ressalta ainda que há atualmente em África um discurso corrente no meio político e religioso de que a homossexualidade seria algo “importado” para o continente pelos colonizadores. Para o mestre em Direitos Humanos e doutorando em Estudos Africanos Rui Garrido esse discurso dificulta a atuação dos grupos LGBT, que se veem divididos entre uma atuação internacionalizada – na qual podem contar com uma rede de apoio – ou uma atuação local, que pode alcançar maior capilaridade, mas que por outro lado enfrenta desafios como a falta de financiamentos.

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“No caso de Uganda, há uma clara identificação do movimento LGBT com movimentos internacionais – o uso da bandeira arco-íris, por exemplo. Eles estão em uma lógica mais internacional de ação. O que não se passa neste caso do Umunthu, no Malauí, que é precisamente o contrário. O Umunthu é a procura dentro das filosofias que as pessoas em África sentem como legítimas e autênticas para, de alguma forma, perceber que essas pessoas, apesar de diferentes, também têm o seu espaço nestas sociedades”, compara Garrido.

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God Loves Uganda é outro documentário que retrata a perseguição aos gays no país – Divulgação

O pesquisador também chama a atenção para a subjetividade que existe na aplicação de leis anti-homossexualidade e as brechas que elas abrem para perseguições e arbitrariedades. “Estas leis são sempre muito amplas. A legislação em Uganda define como crime o ato homossexual – o país não pune a homossexualidade, mas pune o ato. Mas, na prática, não é como as coisas ocorrem. Basta ver o caso em que a polícia prendeu um casal por simples alegação de que eram homossexuais [sem a necessidade do flagrante]”, aponta.

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And Still We Rise

Uganda, 2015

Direção: Richard Lusimbo e Nancy Nicol

O documentário conta a história do ativista Richard Lusimbo, da organização Sexual Minorities Uganda (SMUG), e retrata o impacto da Lei Anti-Homossexualidade naquele país, através de relatos pessoais e a crescente repressão que se seguiu à aprovação da lei, que deu início a uma onda de perseguições e de violação dos direitos humanos da população LGBT.

 

Umunthu

Malawi, 2013

Direção: Mwiza Nyirenda

Umunthu retrata uma viagem de três jovens pelo pequeno país – o diretor do filme e dois amigos, cada um com um posicionamento distinto sobre a questão dos direitos LGBT. Através da visão do Umunthu – uma filosofia pan-Africana que promove a tolerância – o filme explora as complexidades em torno do debate dos direitos LGBT no Malawi e a relação com os direitos humanos, tolerância, cultura, religião, política e legislação.

Ativismos em África

A Conferência Internacional “Ativismos em África” será realizada entre os os dias 11 e 13 de janeiro. O evento é promovido pelo Centro de Estudos Internacionais (CEI) do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL) e ocorrerá na sede da instituição, em Lisboa. O encontro vai debater as formas de ativismo e o seu impacto no processo de mudança social com foco em Direitos Humanos, exercício de Cidadania, ativismo ambiental, ativismo de gênero e LGBT, o movimentos camponeses, ativismo na Saúde e mudança de regime político.

No dia 12 de janeiro, às 16h45, a diretora do documentário And Still We Rise, Nancy Nicol (York University) fará parte de um painel que exibirá o documentário seguido de um debate sobre a produção do trabalho e os impactos da Lei Anti-Homossexualidade em Uganda.

Programação e mais informações aqui