Natalia da luz, Por dentro da África
Luanda – Durante um encontro realizado no último sábado, cerca de 15 ativistas angolanos foram presos pela Polícia Nacional, acusados de “alterar a ordem pública do país”, segundo comunicado do Serviço de Investigação Criminal. Opine no fórum abaixo!
– Esse encontro surgiu da necessidade de se dar mais dinamismo ao movimento, que é contra a repressão que acontece neste país. Surgiu para falar com os ativistas sobre a situação política e a ditadura que mina a liberdade da população – diz uma fonte segura do Por dentro da África, lembrando que um dos materiais distribuídos no encontro era o livro Ferramenta para Destruir o Ditador e Evitar nova Ditadura, do jornalista Domingos da Cruz, que já foi julgado pelo regime.
O livro anterior, “ Para onde vai Angola: A selvageria apocalíptica onde toda perversidade é real” foi o motivo de perseguição política e de uma investigação por incitação à violência que o levou ao tribunal. Em entrevista ao Por dentro da África, realizada no ano passado, Domingos não sabia dizer concretamente qual trecho do seu trabalho teria gerado tal repulsa dos políticos angolanos. A sua certeza era de que grande parte deles temia ideias autênticas e contrárias à crítica e ao esclarecimento.
– As suas atitudes de censura são manifestações de coerência com a natureza do regime. Para mim, com esse grupo no poder, Angola continuará um país atrasado, sem bens sociais mínimos para viver, com alto índice de corrupção, um país que envergonha os seus filhos, que lutam por uma vida ética – desabafa o ativista de 29 anos com três livros publicados: “Para onde vai Angola” (2008), “Quando a guerra se faz necessária e urgente” (2010) e “A liberdade de expressão e de imprensa: implicações éticas na infância” (2011) – disse o escritor. Veja aqui a entrevista com Domingos da Cruz
Ao Por dentro da África, o militante, que não quis se identificar, diz que não participou do último encontro (senão estaria preso) destaca que os policiais pegaram os indivíduos e os levaram até as suas residências, onde apreenderam os seus bens, como telefones, computadores, HDs e máquinas fotográficas.
O encontro de sábado foi realizado em uma residência emprestada no bairro Nelito Soares, no distrito do Rangel, na casa de Alberto Neto, um antigo candidato a PR de Angola. Dos presos, apenas Luaty Beirão, Nito Alves e Nuno Álvaro Dala foram identificados e estão na 29ª Esquadra, zona do Cassequel, em Luanda.
A fonte acredita que um fato a se destacar é que os presos são professores, escritores, jornalistas, filósofos, ativistas. Ao contrário do que a polícia diz, não são meliantes querendo causar desordem pública. Nuno Álvaro Dala, por exemplo, é graduado em Pedagogia e Estudos dos Clássicos pela Faculty of Arts da University of Winnipeg (Canadá) e mestre em Ciências da Educação pela mesma Universidade.
-Entre os detidos, também está o jornalista Sedrick de Carvalho, levado algemado diante da esposa e de uma filha ainda bebê. Esses ativistas são contra os desmandos do governo, da polícia. Um dos aspectos discutidos e analisados durante a reunião era abordar a atuação da polícia do regime. Neste momento, os ativistas que se encontram fora da cadeia estão a passar as noites fora das suas residências para não serem detidos. O facebook é um dos meios de comunicação que eles estão a usar sem medo para denunciar as atrocidades deste regime. Muitos de nós estamos sendo monitorados.
Em Nota à Imprensa, o Serviço de Investigação Criminal do Ministério do Interior tornou público que 13 (treze) cidadãos, que se preparavam para realizar atos tendentes a alterar a ordem e a segurança pública do país, foram presos junto “com uma série de provas”.
– Precisamos que as organizações mais poderosas de defesa da vida e de uma justiça universal se pronunciem em relação ao assunto. Queremos rádio, jornais e televisões estrangeiras falando sobre o assunto para que não seja mais uma detenção para ferir a democracia de Angola – finalizou.
Jornalista que denunciou indústria dos diamantes é preso
Entre os muitos casos de repressão à liberdade de imprensa está o do jornalista Rafael Marques. Acusado por generais angolanos, Marques foi impedido de sair do seu próprio país. Em discurso, o ativista disse que “Angola é um país que existe, embora grande parte concorde que ainda não é uma nação. A democracia é uma farsa, o governo é uma farsa, as políticas internacionais para Angola são também uma farsa” – afirma Marques em sua obra.
Em abril de 2013, Marques foi interrogado no Departamento de Combate ao Crime Organizado, sob a acusação de difamação por conta do livro “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”, publicado em Portugal, em 2011. A obra documenta casos de homicídio, tortura, deslocamentos forçados e intimidação contra os habitantes das áreas de extração de diamantes em Lundas.
[bbp-single-topic id=20789]