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Relativamente desconhecido, apesar da sua localização estratégica, riqueza histórica e imponente dimensão territorial, o Chade está entre a África do Norte e a África Central. O país faz fronteira com a Líbia ao norte, o Sudão a leste, a República Centro-Africana ao sul, República de Camarões e Nigéria a sudoeste (cuja fronteira está separada pelo icônico Lago Chade). O Chade também faz fronteira com o Níger a oeste.
O país que faz a ligação entre a região do Magrebe e a África Central é o ponto de encontro de três civilizações: árabe-muçulmana, sahelo-saariana e os bantus. Além de toda essa riqueza étnica, o Chade foi a base de um dos reinos pré-coloniais mais significativos do continente africano, o reino do Kanem-Borno, que floresceu nos territórios do Chade, Nigéria, Níger, Líbia e Camarões desde o século IX. Milenar, o Kanem-Borno é uma das civilizações africanas mais longevas.
Em 2023, a população do Chade foi estimada em 17,4 milhões de pessoas, 3,7 milhões das
quais são fortemente afetadas pela insegurança alimentar, segundo uma análise de dados
conduzida pelas Nações Unidas, e pelo menos uma em cada três crianças chadianas está
desnutrida.
Alimentos nutritivos são acessíveis para menos de metade da população e, embora
estejam entre as pessoas mais vulneráveis às mudanças climáticas e com índices de
insegurança alimentar entre os mais altos do mundo, os chadianos demonstram um grau
incrivelmente alto de resiliência. Apesar da abundância em recursos naturais, incluindo
petróleo, o Chade ocupa uma das posições mais baixas (186 de 189) no ranking de países
desenvolvidos, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estabelecido pelo PNUD – o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Aproximadamente 87% da população rural do Chade (estimada em 14 milhões de pessoas) vive com menos de 6 reais por dia. Apesar das dificuldades da vida quotidiana, bem como dos riscos causados pelas alterações climáticas, mais de um ano após o início da guerra civil no Sudão, o Chade acolhia 1,1 milhão de refugiados em novembro de 2024, tornando-se o maior país-anfitrião, per capita, em todo o continente africano, e, entre os cinco principais países anfitriões do mundo.
Este número inclui, além dos sudaneses que chegaram antes da mais recente guerra *abril de 2023*, outras pessoas vindas da República Centro-Africana, Nigéria e Camarões. A maioria dessas pessoas é vítima do fundamentalismo religioso desenfreado que assola diferentes partes do mundo.
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Quando falamos sobre a riqueza de África, referimo-nos a muitas coisas e a aspectos
diferentes da vida. Da beleza natural à história. África não é rica somente porque o continente concentra minerais que garantirão o progresso e a prosperidade de uma boa parte de todo o planeta durante muitos anos.
O continente também deve chamar a nossa atenção por todas as histórias de superação que ele tem para contar. Histórias de dominação e lutas, sim. Mas também histórias de
desenvolvimento, de inovação, mas, sobretudo, histórias de solidariedade.
O mundo precisa aproveitar o poder das parcerias entre países do chamado “Sul Global” se
quisermos reduzir a pobreza e melhorar a segurança alimentar e nutricional, ao mesmo tempo em que enfrentamos outros desafios decorrentes do racismo estrutural, da crise financeira e das mudanças climáticas.
O enorme potencial para a chamada “cooperação sul-sul”, seja em áreas tão diversas quanto agricultura, produção de alimentos e desenvolvimento rural, mas também em esportes, artes e tecnologia, deve ser explorado em uma extensão muito maior do que é hoje para que o mundo, em particular os países em desenvolvimento, possam enfrentar adequadamente os desafios do futuro.
A solidariedade, a ser expressa na cooperação bilateral e multilateral, é definitivamente o
caminho a seguir e os chadianos estão provando isso hoje, não importa o alto preço que
tenham que pagar para compartilhar o que têm com aqueles que precisam de proteção, como tem sido feito nos últimos 20 anos, com as pessoas que vem buscando abrigo no país.
Gerson Brandão fez parte da operação humanitária no Chade em 2024
-Kanem-Bornu, império comercial africano governado pela dinastia Sef (Sayf) que controlou a área em redor do Lago Chade do século IX ao século XIX. O seu território, em várias épocas, incluía o que é atualmente o sul do Chade, o norte dos Camarões, o nordeste da Nigéria, o leste do Níger e o sul da Líbia.