Por dentro da África
Ele foi o primeiro brasileiro a cruzar o continente africano de bicicleta. Do Egito até a África do Sul, o jornalista Alexandre Costa Nascimento pedalou mais de 12 mil quilômetros. As experiências vividas em 11 países foram escritas no livro “Mais de um leão por dia”. Convidado pela RTP, Alexandre, que é correspondente do Por dentro da África em Portugal, falou do seu trabalho como pesquisador.
Ao lado de ciclistas de 18 países, o jornalista foi o primeiro brasileiro na expedição Tour d’Afrique. Depois dessa experiência, ele decidiu estudar o uso da bicicleta como ferramenta de desenvolvimento econômico e social na África.
“O continente africano é o continente onde há o menor uso da bicicleta, e onde o uso dela pode ser mais eficiente até mesmo por conta da deficiência de transporte público. Infelizmente, ela não é acessível para muitas pessoas porque tem um custo médio de 100 dólares. Isso e muito dinheiro, principalmente, nas regiões rurais”, destacou durante a entrevista ao programa Bem-Vindos, da RTP-África, transmitido em Portugal e nos países africanos lusófonos.
Assista à entrevista abaixo:
Em junho, Alexandre defendeu a dissertação “Difusão tecnológica e adaptação à mobilidade por bicicletas em África”, concluindo o programa de Mestrado em Estudos Africanos no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. O trabalho acadêmico investiga as dinâmicas sociais, econômicas, históricas e culturais que limitam e/ou impedem a difusão e massificação do uso da bicicleta em países africanos.
Em sua dissertação, o pesquisador mostra que a posse de bicicletas em África em relação à população é a mais baixa em todo o planeta, sendo considerado um meio de transporte restrito a um nicho na região Subsaariana. “Andar representa dois terços do total de viagens em grandes cidades africanas. No Quênia, mais de 90% das viagens rurais são a pé, 4% em bicicleta, 2% em paratransporte e apenas 0,5% em ônibus”. Os dados são da pesquisa “Non-Motorized Transport: Confronting Poverty Through Affordable Mobility”, citada em seu trabalho.
A pesquisa seguirá, agora no nível de doutorado, com um estudo de caso sobre transferência de tecnologia e mobilidade em África, investigando aspectos da não-adaptação à bicicleta como meio de transporte.
Além do seu trabalho como escritor e pesquisador, Alexandre falou com a apresentadora Cláudia Leal sobre a sua atividade de correspondente do Por dentro da África, lembrando que o site abrange diferentes aspectos do continente africano, além da produção acadêmica, com publicação de estudos.
“É um prazer fazer parte desse trabalho magnífico. Eu convido a todos que sigam o Por dentro da África porque é um espaço muito mais amplo do que as notícias que chegam de agências internacionais. Esse trabalho feito por mais de 20 colaboradores de forma voluntária é de extremo comprometimento e por isso também uma maneira de furar esse bloqueio da mídia convencional que ainda insiste em reproduzir principalmente informações sobre tragédias”.