Por dentro da África
(atualizado dia 26 de junho de 2014)
Rio – A sudanesa Meriam Yehya Ibrahim, condenada à morte por sua religião, foi libertada nesta segunda-feira, mas detida ao tentar sair do Sudão nesta terça-feira. Mãe de um menino de 1 ano e meio e de uma menina de quase um mês (nascida na cadeia), Meriam afirmava ser cristã, mas o tribunal de Cartum (capital do Sudão) insistia que ela era de origem muçulmana e que teria renegado a sua religião. Após três dias detida, a sudanesa conseguiu abrigo na Embaixada dos Estados Unidos no Sudão, onde permanecerá até ter a autorização para deixar o país.
Conheça o caso: Sudanesa é condenada à morte por ser cristã
– Meriam é católica, sempre foi cristã. Ela não sabe absolutamente nada sobre o Islamismo. O governo a pressionou e chegou a essa sentença absurda por conta da Sharia – disse em entrevista ao Por dentro da África a ativista sudanesa Mai Shutta, que mobiliza campanhas e protestos sobre o caso.
Casada com um cristão, Meriam, de 27 anos, é filha de pai muçulmano e mãe católica, que a criou sozinha como cristã. No entanto, como o seu pai era muçulmano, os tribunais a consideram muçulmana, o que significa que o seu casamento com um homem não-muçulmano é nulo.Mai explicou que a Sharia (código de leis islâmicas baseadas no Alcorão),que vigora no país, não reconhece o casamento de uma muçulmana com um cristão; que por isso, o governo a condenou a 100 chibatadas pelo crime de “adultério” (por ter casado com um cristão). O tribunal deu a ela alguns dias para “retratar a fé”, algo que Meriam se recusou a fazer. Por esse “crime” (que o Tribunal chamou de apostasia – abandono ou negação da fé. Lembrando que Mariam nunca foi muçulmana), ela foi condenada à morte por enforcamento.
– De acordo com a lei, se eu for muçulmana, eu não poderei me casar com um homem cristão. A família não aceita. Seria uma vergonha para a família. Mas um homem muçulmano pode se casar com uma mulher cristã – explicou a ativista, que vive na Alemanha por conta da perseguição do governo sudanês.
No país, a religião predominante é o islamismo. A Sharia, de maneira geral, tem sido incorporada aos sistemas políticos de forma integral em países como Arábia Saudita, Yemen, Irã e Paquistão.
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