Por dentro da África
Após as eleições na República Democrática do Congo, realizadas em 30 de dezembro, o governo bloqueou o acesso à internet no país. A medida deveria permanecer até o dia 6 de janeiro, quando seriam anunciados os resultados provisórios do pleito, mas a Comissão Eleitoral informou que a medida deverá ser prolongada.
“Segundo o governo, essa ação foi tomada para evitar uma insurreição do povo, só que a verdadeira razão desse corte é para que as testemunhas e observadores das eleições não tenham como divulgar os resultados”, disse o ativista Charly Kongo ao Por dentro da África. Em comunicado, Barnabe Kikaya bin Karubi, conselheiro do presidente, disse que os serviços de internet e SMS foram bloqueados para “preservar a ordem pública diante de possíveis falsos resultados”.
Charly, que vive no Brasil há nove anos, faz ligações por telefone para falar com a família e amigos que estão na República Democrática do Congo. Diariamente, ele recebe notícias com apreensão.
“Se o candidato do poder for proclamado como vencedor, é provável que a oposição, sociedade civil e população não aceitem. Sempre que há manifestação contra o governo lá, há uma grande repressão. Será que depois de dois ou três dias da repressão, a população vai aceitar o candidato do poder como presidente ou vai lutar? Esse adiamento é um verdadeiro absurdo. A eleição que é um simples exercício democrático, para nós, é um motivo de conflito”, afirmou o ativista.
Esse conturbado processo eleitoral no país tem sido adiado desde dezembro de 2016. Joseph Kabila, presidente desde 2001, não pode voltar a concorrer por já ter cumprido dois mandatos, como prevê a Constituição. Ele assumiu a presidência após o assassinato do pai, o então presidente Laurent Kabila, em 2001. De 2006 a 2016, Joseph Kabila cumpriu dois mandatos como presidente. A sua saída, esperada em dezembro de 2016, não ocorreu.
O sucessor preferido do presidente Joseph Kabila é Emmanuel Ramazani Shadary. Como concorrentes estão Felix Tshisekedi, filho do veterano líder da oposição Etienne Tshisekedi, e o businessman Martin Fayulu.
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