Rio – A chefe das Nações Unidas para os direitos humanos, Navi Pillay, alertou que a deterioração da segurança na República Centro-Africana pode sair do controle e desestabilizar ainda mais o país.
– Os últimos confrontos entre as ex-forças Séléka e vários grupos de autodefesa são extremamente preocupantes. Tais incidentes violentos têm aumentado as tensões entre as comunidades, causado divisões religiosas e linhas sectárias que podem levar a uma maior desestabilização do país – disse Pillay.
Há décadas a República Centro-Africana vem sofrendo com os conflitos e a instabilidade. Em dezembro do ano passado, a violência aumentou quando a coalizão rebelde Séléka lançou uma série de ataques. Um acordo de paz foi assinado em janeiro, porém, foi logo quebrado em março de 2013 quando os rebeldes tomaram a capital Bangui e forçaram a fuga do presidente François Bozizé.
Agora, o país possui um governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro Nicolas Tiangaye, encarregado de restaurar a lei e a ordem e abrir o caminho para eleições democráticas. Mas os confrontos armados no nordeste têm aumentado desde o início de agosto e a região está enfrentando uma terrível crise humanitária, que afeta toda a população de cerca de 4,6 milhões de pessoas.
Pillay disse que os relatos do massacre de 26 de outubro, com vítimas majoritariamente mulheres e crianças em um vilarejo perto de Bouar, ilustra o nível de violência que prevalece no país e o absoluto desprezo pela vida humana demonstrado pelas pessoas que estão promovendo esses ataques.
Em Bossangoa, centenas de civis, incluindo dois trabalhadores humanitários de uma ONG, morreram durante confrontos entre grupos armados nas duas primeiras semanas de setembro. Pillay pediu que o governo do país investigue esses incidentes de forma transparente.
Representantes da ONU visitaram a região recentemente e receberam relatos de violações generalizadas dos direitos humanos cometidas por grupos armados, incluindo execuções sumárias, violência sexual, prisões e detenções arbitrárias.
A alta comissária da ONU para os direitos humanos também mostrou preocupação quanto aos relatos de detenções ilegais e tortura na capital do país e pediu que o governo investigue as denúncias.
Enquanto isso, um estudo recente realizado em conjunto pela ONU, organizações não governamentais e o governo do país mostra que mais de 1 milhão de pessoas estão correndo o risco de passar fome e adverte que a situação pode piorar por causa das colheitas ruins e da desaceleração drástica das atividades econômicas nos últimos meses.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) forneceu ajuda alimentar vital para cerca de 250 mil pessoas no país desde janeiro. Para manter a assistência, a agência precisa de um financiamento adicional de 20 milhões de dólares até abril de 2014.
Desde o ano passado, muitos agricultores abandonaram suas fazendas, deixando plantações abandonadas. A maioria das famílias disse que o gado havia sido roubado. Outras venderam gado e sementes para sobreviver com medo de deslocamentos e saques.
Com informações da ONU