Por dentro da África
A atual presidente nigeriano Muhammadu Buhari foi anunciado como o vencedor das eleições presidenciais. No último sábado (23), no país mais populoso do continente africano (cerca de 190 milhões de habitantes), 72 candidatos disputaram a presidência. Apesar das dezenas de candidatos, as eleições foram marcadas pelo acirramento entre Muhammadu Buhari (APC) e Atiku Abubakar (PDP), candidato da oposição. Diferentemente do último pleito, em 2015, onde a maior preocupação era a segurança e o combate ao Boko Haram, neste, o tema central foi o combate à pobreza.
Segundo dados do governo, 91 partidos participaram das eleições gerais para a presidência e o Senado. Na Nigéria*, o presidente é eleito usando um sistema de dois turnos. Para ser eleito diretamente, no primeiro turno, um candidato deve receber a maioria dos votos e mais de 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados. Os 109 membros do Senado são eleitos para mandatos de 4 anos.
Buhari foi reeleito com mais de 15 milhões de votos (56%), enquanto Abubakar teve mais de 11 milhões (41%). Os outros 70 candidatos tiveram juntos cerca de 3% dos votos. Apesar de a Nigéria ter 84 milhões de eleitores cadastrados, apenas 29 milhões votaram. A participação eleitoral foi de 35,6%, segundo a comissão eleitoral, contra 44% nas eleições de 2015.
“Eu acredito que a maioria do povo nigeriano queria uma mudança de governo para o Partido Democrático dos Povos (PDP), que governou por 16 anos a partir de 1999, quando o governo militar entregou o poder para o civil. Os últimos 16 anos foram de corrupção e aumento da pobreza. Em 2015, a bandeira da corrida eleitoral era a segurança e o combate ao terrorismo, agora foi o enfrentamento à crise econômica”, disse ao Por dentro da África, o nigeriano Sylvester Eromosele, que participou como observador nas eleições.
Abubakar, que concorreu à presidência quatro vezes, rejeitou os resultados das eleições, chamando o processo eleitoral de “militarizado” e um “desserviço” à democracia nigeriana. Após o anúncio da vitória do rival, na última quarta-feira (27), ele disse que vai recorrer à justiça por acreditar que irregulares foram cometidas.
“A maior dificuldade para a Nigéria é assumir e transformar esse senso de liderança. Quem está no poder, geralmente, se apega aos ganhos pessoais e individuais. Governar para o povo acaba não sendo a prioridade. O nosso país precisa de um líder que governe para todos e não em favor de interesses próprios e grupos étnicos”, destacou Sylvester.
*Composta por mais de 250 grupos étnicos, a Nigéria compartilha fronteiras com Benin, Chade, Camarões e Níger. Em 2013, o seu produto interno bruto (PIB) se tornou o maior da África, com mais de 500 bilhões de dólares, ultrapassando a economia da África do Sul e chegando ao posto de 26ª maior economia do mundo alimentada, principalmente, pelas reservas de petróleo.