Impasses socioeconômicos no continente africano após a Conferência de Berlim

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A caricature of Bismark at the 1884 Berlin Conference, often taken as the starting point of the Scramble for Africa.
A caricature of Bismark at the 1884 Berlin Conference, often taken as the starting point of the Scramble for Africa.

Matheus Moreira, Por dentro da África 

(Estudante de Jornalismo da Universidade Cásper Líbero) 

São Paulo – O imperialismo, prática expansionista que busca em outros países mercados consumidores e matéria-prima, ganhou força no fim do século XIX com a partilha da África pela Conferência de Berlim e se intensificou na passagem para o século XX com os movimentos expansionistas alemães e austro-húngaros.

Essas movimentações aceleraram a corrida armamentista britânica e alemã e, portanto, de toda a Europa, criando assim um mercado industrial voltado para a produção bélica culminando nas duas grandes guerras globais.

A Conferência de Berlim, realizada entre 1884 e 1885, deu início ao que ficaria conhecido como a “Partilha da África”. Uma divisão dos países africanos, enquanto colônias, entre: Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano, Portugal e Alemanha.

A partilha discutida nessa conferencia, visava, literalmente, definir os países imperialistas e expansionistas exerceriam influência em determinadas colônias. O país que teve maior sucesso na divisão foi a Grã-Bretanha. Os britânicos assumiram, por exemplo, a área conhecida como África Austral (África Meridional), com exceção de Angola e Moçambique, que eram colônias portuguesas; Portanto, a Grã-Bretanha passou a controlar essa região que abrange: Botswana, Lesoto, Namíbia, Madagáscar, Zâmbia, África do Sul, Angola, Malawi, Ilhas Maurício, Moçambique, Suazilândia, Zimbabwe.

Com o fim da partilha, diversos Estados africanos foram reorganizados de forma que se pudesse responder aos interesses colonialistas, sem levar em consideração as diferenças culturais e étnicas destes países. Essa reorganização culminou na reunião de tribos rivais em um mesmo território, levando a eclosão de conflitos étnicos como os vivenciados na África do Sul, Sudão e Ruanda.

Leia mais: Há 130 anos, a África era repartida na Conferência de Berlim 

Os conflitos já existentes cresceram exponencialmente após o início do que é conhecido como descolonização. Este termo remete às negociações de independência entre as metrópoles e os movimentos nacionalistas dos países africanos. Entretanto, devido às divisões étnicas de cada país, era comum uma etnia beneficiar-se durante as negociações com o auxílio da metrópole na sucessão do governo da colônia para si.

E este benefício acabou levando o continente a uma onda de insurgências ditatoriais, como, por exemplo, a ditadura militar na República do Congo, liderada por Mobutu Sese Seko. Entretanto, os processos de independência não impediram o mantenimento da influência econômica dos “países de primeiro mundo” no continente, configurando a nova ordem mundial, polarizada e protagonizada pelos Estados Unidos e a União soviética.

Esse espaço de tempo entre o fim da segunda guerra e a virada do século ficou conhecido como Guerra Fria, período em que não houve, de fato, combate direto entre as duas grandes potências mundiais, mas sim o acirramento dos conflitos, agora com influências político-ideológicas, como as disputas de poder moçambicanas entre a socialista Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e a anticomunista Renamo (Resistencia Nacional Moçambicana).

Com a posse de Frederick De Klerk como presidente e o apoio da ONU, o governo sul-africano abriu as portas para o debate e teve início uma série de mudanças que colocariam fim ao regime de segregação na África do Sul. De Klerk trouxe de volta a legalidade o CNA (Congresso Nacional Africano) e revogou as leis raciais.

Arquivo - Nelson Mandela FoundationEm 1993, De Klerk e Mandela ganharam o Prêmio Nobel da paz e, no ano seguinte, Mandela foi eleito presidente na primeira eleição multirracial do

Economia de países africanos no pós-guerra

As zonas de influência, no pós-guerra favoreceram o crescimento econômico americano e, de certa maneira, o avanço dos países africanos alinhados ao capitalismo. Entre 1965 e 1983, o aumento do investimento estrangeiro em países africanos aumentou de 0,2 bilhões de dólares em 1965-1969 para 1,4 bilhões em 1980-1983.

Entretanto, por conta da Guerra Fria, fazia-se cada vez mais notável a polarização dos países do continente, de forma que optassem por seguir linhas mais próximas do capital estrangeiro ou socialista.

Para fins de comparação, pode-se citar a Costa do Marfim, que lançou, na década de 60, um plano de longo prazo, que visava, impreterivelmente, criar diversidade na produção agrícola marfinense por meio do mantenimento e até aumento de investimento do capital estrangeiro no país. Essa movimentação ficou conhecida como neocolonialismo, um processo de “dominação” econômica de potências capitalistas sobre países em desenvolvimento. Em contrapartida, alguns optaram por linhas mais próximas do socialismo, entre eles estão: Argélia e Mali.

 Mali

Enquanto países como Gana privilegiavam a economia mista, o Mali, destacou-se entre os países africanos de linha socialista. Ao contrário de outras ex-colónias francesas que em acordos assinados optavam por uma moeda comum com garantias no tesouro do Estado Francês, o Mali apoiou-se na economia marxista e foi capaz de “enxergar” no comércio exterior uma ponte para a exportação da mais-valia malinesa e, além disso, inaugurou sua própria moeda: Franco Malinês.

 Argélia

A Argélia, abandonada pela população europeia, encontrou no socialismo um caminho para reerguer o país, começando pela retomada das usinas e propriedades rurais latifundiárias e agrícolas pelo povo.

A Argélia inovou ao propiciar a autogestão do trabalho no campo, coordenada por assembleias de trabalhadores que elegiam entre si os administradores. Rapidamente, 2,3 milhões de hectares de áreas de exploração agrícola, (abandonadas pelos europeus) que representam 65% da produção total de cereais da Argélia, foram nacionalizadas. Além da agricultura, nacionalizou-se também a mineração, manufatura e o setor petrolífero.

Terraço do luxuoso restaurante Cais de Quatro com vista para a cidade Luanda, capital da Angola  Foto: Simon Dawson/Getty Images
Terraço do luxuoso restaurante Cais de Quatro com vista para a cidade Luanda, capital da Angola Foto: Simon Dawson/Getty Images

Segundo o relatório Africa’s Pulse, do Banco Mundial, o aumento no preço de matéria-prima, somado a um crescimento de mercado consumidor fez com que diversos países do continente africano tenham tido crescimento mais acelerado que o resto do mundo, entre eles estão: Serra Leoa, Costa do Marfim, Libéria, Níger, Ruanda, Etiópia e Burkina Faso.

Ainda de acordo com a Africa’s Pulse, o banco mundial prevê um crescimento ainda maior para os países até o fim de 2015, principalmente para os países ricos em minérios e de forte produção agrícola.