Energia solar transforma vidas em habitação social de Joanesburgo

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Solar panels provide lighting and hot water to social housing units in Johannesburg. Credit: UNEP

Com informações da ONU

O sol já se pôs em Joanesburgo, África do Sul, e Nntuthuzelo Ndwandwa, 39 anos, retorna para casa após mais um dia de trabalho como consultora de atendimento ao cliente. Antes, ela caminhava apreensiva no escuro. Hoje, atravessa um condomínio iluminado por luzes alimentadas por energia solar e entra em seu lar com acesso garantido a água quente graças a um aquecedor também movido a energia solar.

“Estamos seguros durante os apagões porque as luzes externas funcionam com energia solar”, conta Ndwandwa. “Também tenho a certeza de que vou ter água quente pela manhã. Isso facilitou muito a minha vida.”

Pode parecer uma situação cotidiana, mas para Ndwandwa e centenas de moradores do projeto de habitação social Tshedzani Fase 3, isso representa uma verdadeira revolução. As melhorias vieram por meio de um projeto financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), que instalou equipamentos movidos a energia solar em unidades habitacionais públicas em toda a maior cidade da África do Sul. Implementado pela Prefeitura de Joanesburgo, o objetivo foi melhorar a qualidade de vida nas zonas urbanas e, ao mesmo tempo, combater as mudanças climáticas.

“Antes do projeto, durante os apagões ficava tudo escuro lá fora […] ninguém saía de casa com medo”, lembra Catherine Gugulethe Mbuyisa, 55 anos. “Havia sequestros de carros, roubavam até as roupas do varal. Mas desde a instalação dos sistemas solares, não tivemos mais esses problemas — e economizei muito na eletricidade.”

Cidades como protagonistas da ação climática

Joanesburgo é uma das muitas cidades que vêm acelerando a redução das emissões de gases de efeito estufa por meio de um planejamento urbano mais eficiente — algo que especialistas consideram uma forma rápida e eficaz de alcançar metas climáticas. Mas os benefícios vão além do meio ambiente: incluem desde o acesso à energia até a proteção contra riscos à saúde, como o descarte inadequado de resíduos.

“A ação para reduzir emissões não faz diferença apenas no nível global — ela transforma a vida das pessoas de maneira positiva”, afirma Martin Krause, diretor da Divisão de Mudanças Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Nas cidades, onde a população está concentrada, os ganhos podem ser rápidos para as pessoas e para o planeta.”

Atualmente, cerca de 56% da população mundial vive em áreas urbanas — quase 1,2 bilhão de pessoas já enfrentam riscos associados às mudanças climáticas, como aumento do nível do mar e ondas de calor. Ao mesmo tempo, segundo a Agência Internacional de Energia, as cidades consomem cerca de 75% da energia global e são responsáveis por aproximadamente 70% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. A urbanização rápida só aumenta esses impactos.

Apesar disso, as cidades também são centros de soluções climáticas. Especialistas afirmam que o modo como os centros urbanos são planejados, construídos e geridos será determinante para reduzir emissões, consumo de recursos e aumentar a resiliência às mudanças do clima. Por isso, projetos bem-sucedidos como o de Joanesburgo ganham destaque.

Iniciado em 2020, o projeto do GEF focou em cinco áreas-chave: requalificação de habitações sociais, fortalecimento da segurança alimentar por meio da agricultura urbana sustentável, melhor gestão de resíduos biodegradáveis, capacitação comunitária e planejamento urbano baseado em dados.

Como parte dessa iniciativa, 172 unidades do conjunto habitacional Roodepoort Tshedzani 3 foram equipadas com aquecedores solares, painéis solares, baterias de íon-lítio, iluminação eficiente e dispositivos para economia de água.

Para incentivar a agricultura orgânica nas periferias urbanas, foram distribuídas sementes, fertilizantes e ferramentas para produtores, além da construção de poços em quatro locais. Cerca de 8 mil metros quadrados já estão em cultivo orgânico e aguardam certificação. Os moradores também receberam treinamentos sobre sustentabilidade, incluindo reciclagem, e está em construção uma usina de biodigestão para transformar resíduos em energia.