Eleições em Angola: Incoerências nos resultados

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João Lourenço, candidato do MPLA - Foto de divulgação
João Lourenço, candidato do MPLA – Foto de divulgação

Por dentro da África

As eleições do dia 23 de agosto levaram os angolanos às urnas para a escolha do próximo presidente. Na tarde desta quinta-feira (24), a CNE (Comissão Nacional Eleitoral) iniciou a divulgação preliminar dos resultados eleitorais, sem que as províncias tivessem apurado os resultados. De acordo com os números apresentados, o MPLA vence com uma maioria de 64.57%, seguido pela UNITA, com menos de metade dos votos, alcançando apenas 24.4%, e em terceiro lugar a CASA-CE, com 8.56%. Por dentro da África reproduz parte do artigo de Rafael Marques, publicado pelo Maka Angola. Leia o artigo completo aqui!  

A CNE iniciou ao fim desta tarde a divulgação preliminar dos resultados eleitorais, sem que as províncias tenham feito o apuramento dos resultados, quer a nível local, quer no Centro Nacional de Escrutínio. De acordo os números apresentados, o MPLA vence com uma maioria de 64.57%, seguido pela UNITA, com menos de metade dos votos, alcançando apenas 24.4%, e em terceiro lugar a CASA-CE, com 8.56%.

“Esses resultados divulgados pela CNE são completamente falsos. Nem nas províncias nem em Luanda houve apuramento dos resultados pela CNE. Esses resultados são completamente inventados”, denuncia o presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel.

Contrariamente às eleições passadas, desta vez não houve projecções de resultados. A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, leu os resultados a partir de folhas soltas numa capa. Não respondeu às perguntas. “Leu o que lhe deram para ler”, comenta um jornalista.

A leitura foi feita na Escola Nacional de Administração Pública, no Morro Bento, apesar de o Centro Nacional de Escrutínio se situar no Centro de Convenções de Talatona, a poucos quilómetros de distância. Basicamente, a conferência de imprensa serviu para afastar os jornalistas do centro de escrutínio.

Nas eleições de 1992, 2008 e 2012, os resultados foram projectados em ecrãs montados pela CNE, e a sua actualização podia ser acompanhada pelas televisões e outros órgãos de informação. O Centro Nacional de Escrutínio está mais bem equipado do que das vezes anteriores e tem esses meios à sua disposição.

Os mandatários e comissários dos partidos políticos estiveram no centro de escrutínio até às 2h00 e retiraram-se apenas por poucas horas. Durante todo o dia, não notaram quaisquer movimentações de apuramento de resultados no Centro Nacional de Escrutínio.

Um alto funcionário da CNE, que prefere não ser identificado, confirma ao Maka Angola o que se passa no Centro Nacional de Escrutínios, onde estão centenas de operadores. “Eu ainda não vi chegar um único fax ao centro. Desde que aqui estou, só vi testes de envio e recepção de faxes anteriores às eleições. Oiço agora dizer que estão a chegar alguns faxes lentamente, mas não confirmo ter visto nenhum. Também não vi lá nenhuma acta [de mesa, ou síntese de assembleia de voto]”, garante o alto funcionário. “Esteve aqui uma delegação norte-americana a visitar, com autorização de um oficial do Serviço de Inteligência colocado aqui no centro, para impressionar. De resto, não temos mais informações”, revela o mesmo interlocutor.

“Ainda não assistimos a nenhuma contagem no centro de escrutínio. Estamos aqui desde ontem. Não vimos nenhum fax a chegar e agora temos projecções da CNE. Como?”, interroga-se o mandatário da UNITA, José Pedro Katchiungo.

Na hipótese de se usar o argumento da dificuldade de comunicação entre a CNE e o resto do país, vejamos o que se passa em Luanda, no Centro Provincial de Escrutínio. A CNE garante ter já escrutinado 63.74% dos votos.

“Estamos desde ontem (23 de Agosto) de manhã na sala paralela à do escrutínio e até a esta hora nenhum comissário eleitoral teve acesso ao apuramento de dados”, revela um dos comissários.

“Nós estamos desde ontem sentados a olhar para um mapa que nos dá apenas zero de resultados. Estamos a ouvir a projecção da CNE, que parece ter sido transmitida de outra galáxia. É inacreditável”, refere.

Segundo o referido oficial, “nós [comissários] tínhamos de confirmar os resultados, em função da verificação das actas e ratificá-los com as nossas assinaturas. Só assim poderiam ser divulgados os resultados”, esclarece o membro da CNE.