“A anulação da eleição no Quênia será referência para todo o continente africano”, diz ativista

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Foto da campanha de Uhuru Kenyatta - Divulgação
Foto da campanha de Uhuru Kenyatta – Divulgação

Natalia da Luz, Por dentro da África

Após comprovar irregularidades, o Supremo Tribunal do Quênia anulou o resultado das eleições presidenciais realizadas em 8 de agosto. Nos próximos 60 dias, os quenianos deverão voltar às urnas para eleger o novo presidente. O cancelamento de uma eleição a pedido da oposição é sem precedentes na África e sinaliza uma expectativa de que processos eleitorais tenham mais transparência no continente.

Na disputa presidencial, Uhuru Kenyatta foi declarado vencedor, com 1,4 milhão de votos de vantagem sobre Raila Odinga. Algumas semanas depois, o Supremo Tribunal afirmou que as eleições não aconteceram conforme exige a lei e que, por isso, foram invalidadas no dia 1 de setembro.

“É a primeira vez que uma Corte anula uma eleição na África. Estamos ansiosos e observando como esse processo será realizado, já que a oposição colocou algumas dúvidas sobre a integridade dos comissários eleitorais e quer uma mudança de guarda antes da ida às urnas”, disse o ativista Mike Tambo ao Por dentro da África.

O queniano destaca que a a oposição entregou uma lista de demandas de reformas mínimas ao corpo eleitoral, bem como outras considerações técnicas a serem realizadas.

Foto da campanha de Uhuru Kenyatta - Divulgação
Foto da campanha de Uhuru Kenyatta – Divulgação

O resultado das eleições presidenciais no Quênia indicou o atual presidente Uhuru Kenyatta (JP) como o vencedor, com 54,3% dos votos contra 44,7% de Raila Odinga (NASA). A oposição contestou dizendo que havia fortes indícios de fraude.

Após o anúncio do vencedor, manifestações contra o resultado provocaram a morte de 24 pessoas em diferentes cidades do país. A oposição afirmou que a base de dados da Comissão Independente Eleitoral foi alterada e que, portanto, não reconheceria Uhuru como presidente.

Nesses 60 dias, os quenianos estão em ritmo de eleições novamente. Antes, eram 8 candidatos, agora apenas Uhuru e Raila concorrerão. A oposição promete votar para assegurar uma vitória de Raila, enquanto partidários de Uhuru garantem que seu candidato permanecerá no cargo.

Kenyatta, da etnia Kikuyu, é filho do primeiro presidente do Quênia. O nome “Uhuru” significa “liberdade”, na língua swahili. Os kikuyu representam cerca de 20% da população total do país, que tem quase 50 milhões de habitantes.

Raila, que contestou o resultado de 2007 e novamente, tem o apoio dos Luo, um grupo cuja rivalidade contra os Kikuyu definiu grande parte da história pós-independência do Quênia. Os Luo são um grupo étnico que habita o território queniano e áreas de Uganda, Etiópia, Sudão do Sul e Tanzânia. No Quênia, representam cerca de 13% da população.

Raila Odinga - Campanha no Quênia - Divulgação
Raila Odinga – Campanha no Quênia – Divulgação

“O país está um pouco polarizado em linhas tribais com os Kikuyu e os Kalenjin apoiando Uhuru, enquanto outras 40 tribos são a favor de novas eleições, afirmando que o outro pleito foi claramente fraudado”, apontou Mike, lembrando que a polarização em seu país causou uma enorme tragédia há 10 anos.

Após as eleições de 27 de dezembro de 2007, cerca de mil pessoas morreram em confrontos em diversas partes do país. Centenas de milhares foram deslocadas. Na ocasião, o candidato Mwai Kibaki foi considerado reeleito para um segundo mandato de cinco anos, mas Raila Odinga contestou o resultado.